domingo, 11 de maio de 2014

"Província"






1603. 1816.
(Mil lembranças.)


É chegada a hora de partir,
aprontar as malas do destino.
Ela sorria ao pé do altar;
ao pé do altar selou sua sina.

Os sinos das manhãs de catequese,
bordados, rendas e tapeçarias,
são as lembranças por arquivar,
por arquivar até o fim.
Um mundo novo ao qual pertencer,
o florescer da paz.

Ela não disse que estava doendo,
concentrou-se em seu ideal de amor.
Uma lágrima cai e corre,
mas ela ainda insiste em crer no seu ideal,
seu ideal de amor.

As vidraças sem nenhum borrão.
Um borrão de óleo no avental.
O que ficou imortalizado nos lençóis,
da alma não se lavará.

As horas passam na tarde sem fim.
O silêncio a sós ou a dois.
O silêncio na roda dos cavalheiros,
primeiros pingos de decepção.
Do sagradamente instituído ninho,
dissimulação é o caminho.

Ela não disse que estava doendo,
concentrou-se em seu ideal de amor.
Uma lágrima cai e corre,
mas ela ainda insiste em crer no seu ideal,
seu ideal de amor.

Ela admira o vestido preto,
mas logo fecha o armário.
Não é homem o bastante
para ser mulher de fato.
(I Coríntios 11)

Agora nada resta a se fazer.
O aprendizado de uma juventude
nunca lhe ensinara o fundamental,
o fundamental da vida a seis.
Nunca soube por quê os pôs no mundo.
O mundo quer escravos fiéis.

Uma lágrima cai e corre,
mas ela ainda insiste em crer no seu ideal,
seu ideal de amor.








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