domingo, 30 de junho de 2019

Gleba







Até onde meus pés podem ir
para o caminho ser meu?
Trilhas que possuem histórias
nunca antes narradas
– privilégio de saber.
Sou fragmento desta amplidão
que ajudei a cultivar.
Mesmo sem querer, eu fiz a parte
em cada gesto e riso.

É a gleba que engloba os pontos cardeais,
rosa-dos-ventos cataventando meu andar em frente.
Sem fronteiras, nem barreiras, como sou também.
Espiralo num espasmo, pasmo ante a vista
a perder de vista.

Como triste fico ao ouvir,
destes lábios que beijei,
imposto o que deveria ser
ou um gosto ou vocação
de um simples coração.
Como tristes seríamos nós,
confinados a regiões,
se somos multicultivadorizadamentes
entes.

Minha terra tem Palmeiras e Corinthians,
Gre-nal violeta, Fla-Flu de várzea sem juiz.
A garoa vindo à toa não difere
Oiapoque e Chuí e eu intuí qual a face
de um amplo lar.

Chimarreadas são mais divertidas
sobre palafitas;
entre igarapés e mangues,
um lenço Chimango se agita.
Ecoando-se a acordeona
de uma barca no Amazonas.
Chocolates de Gramado
num teleférico ao Corcovado
são mais doces que um Pão-de-Açúcar,
mas as cucas
não têm Estado.

Até onde seus pés podem ir
para ainda ser você?
Não respondo, mas posso sondar
a resposta do próprio solo.

Minha terra estende redes entre montes,
espalha o pólen das criações dela pelo ar.
Eu escuto de olhos fechados essa voz
feita de muitas vozes, cores cambiantes,
penas de pavão gigante.

Minha terra tem aroma exótico e sutil,
tem o gosto indefinível de um araçá azul.
Sem fronteiras, nem barreiras para as asas-
deltas que pintamos, sinestesia-maresia
de aqui ser.








Nenhum comentário:

Postar um comentário