quinta-feira, 1 de julho de 2021

Explosão entre nuvens




Explosão entre nuvens,
a forma menos abstrata
de um desespero sangrento.
Pernas e apêndices insetídeos
sobressaindo das alturas:
seria possível desenhar a sensação?
Cansado, cansado mais do que sempre
estou deste contraste
entre o corpo e o ideal.
Quaisquer ideais conhecidos
de leveza vaporosa, em verso ou em prosa.
 
Um mundo, uma utopia que seja
sem estas visões concretas
de sangue, carne, ossos e cartilagens
(não esqueçamos de mencionar as cartilagens!)
– dores agudas da mais óbvia agudez!
Porque, simplesmente,
anseio pelo escape.
(A sensação me acompanha por toda parte.)
 
Fuga da vermelhidão perseguidora
e das carcaças dilaceradas
do delírio persecutório.
Até em sonhos, até mesmo em macios travesseiros
as visões viscosas, protuberantes, tremulantes
de purulentas carnosidades inevitáveis.
Saúde e doença praticamente indistinguíveis...
 
Urro por ser nuvem, um segundo que seja;
talvez – farei assim o melhor proveito.
Nuvem, névoa, algo ora cinza, ora branco,
ora azulado e voluntariamente dispersável.
 
Mas pode ser ridículo.
Pode ser muito eu mesmo.
Pode ser igualmente
o que não quero ser.
 
Explosão entre nuvens!!!








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