quinta-feira, 1 de julho de 2021

O sopro




Na dimensão dos tempos sobrepostos,
tudo que choramos pode fazer sentido.
Mesmo assim, optamos por não chorar,
na medida do possível.
O direito dos passantes.
Representantes da espécie,
viventes gotículas do céu.
Pelas ruas noturnas da grande cidade,
nadamos e volitamos,
porque simplesmente somos.

Na doçura dos turbilhões, nós.
Nós... e o sopro.

Piscina noturna,
ondulação soturna.
Sorvido o medo sonante,
os insetos marcham ao orifício cruel.
Somente agora,
é tudo espetáculo.
Humanos confiam nos contos feéricos,
que não passam de malogros liberados.
A História feita para ser reproduzida
e repetida.

Temos algo –
um compromisso com a noite longa,
sorrisos gravados em faces alheias.
As lonjuras, as rezas em pensamento,
os sentidos tristes das separações.

Só nós, a aventura não videogravada.
Só nós... e o sopro.








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