quinta-feira, 28 de março de 2019

A última manhã





A última manhã,
a última tarde de sol para nós.
A última noite que cai
e se vai
sem ser notada.

As cores da manhã
em meio à distração, véu de ilusão.
Ou mesmo a tormenta que afasta
ou faz desgastar
as flores das sacadas.

Sem ter a visão, a chance,
última contemplação
de alvoradas,
madrugadas iluminadas,
pensei, do fundo desta cela,
nos jardins dos palácios.
Quando surgimos aqui,
para persistir, sorrimos.

Se o mundo receber
esta mensagem codificada,
quem estará a postos
em meio aos restos
da civilização?

Se restos não houver?
Nem sequer versos encapsulados?
Ou nenhum vestígio dos álbuns,
quer sejam alguns excertos
de emoção?

Quem foi, de nós, que errou
desde o início dos tempos?
Alvoradas,
madrugadas inutilizadas.
Do fundo desta esfera
de remorso universal,
quem dará um sinal
de que, afinal, ressurgimos?

Tanta solidão
não caberia neste céu azul.
Tanta solidão
não caberia numa canção.
Uma vida inteira
que caminha para a beirada
da insuficiência de toda ciência,
quando se sabe
que é a visão final
da vida.
Ou talvez a última canção
ouvida.

Ou seria a última manhã
para o mundo...?








Nenhum comentário:

Postar um comentário