domingo, 6 de janeiro de 2019

Verde-matrix





A noite começou estranha,
em terror lúdico;
o chão e os pés fazendo estalos
sonambúlicos.
“É o meu mundo,” então pensei,
“é o meu sonho que não controlei
bem a tempo de evitar
o confronto com as sombras vivas.”

Dançávamos despreocupados
ao som do jukebox.
Imaginários enlaces de um
romantismo atroz
da lembrança de um anão,
de um palhaço que adotara um cão,
de um mímico sem movimento
ou expressão de humanoide dúvida necessária.

É o meu mundo, é o que amei;
os espelhos que quebrei,
o que tento consertar;
o que quer que me pareça um lar.
O meu mundo, a minha voz;
estes ecos vindo a nós
de uma tela sem matiz
que se tingiu de verde-matrix.

Vou cobrir os ouvidos.
Pode gritar o que bem quiser.
A assim chamada “fraqueza da carne”
foi o que fez a História conhecida.

A noite terminou estranha,
mesmo tão banal.
As janelas da alma já injetadas
de verter seu sal.
E se eu fosse um androide?
E o seu passado, uma ficção?
Choraríamos juntos
ou levaríamos ao vórtice a opressão?

É o meu mundo, o meu jardim,
os meus campos de alecrim,
meu piano de cauda,
minha floresta esmeralda.
O que quer que me acalme,
evanesceu com a tarde...
pois, ao sul do meu país,
a noite caiu verde-matrix.

Quem dera se desarme
o apreensivo alarme...
pois, ao sul do meu país,
tudo está imerso em verde-matrix.