quarta-feira, 10 de julho de 2013

O apego





Pedras guardadas reclamam a distância e a separação – pedrarias montanhosas choram a rústica e bruta extração.

Toda dor que uma criança consegue conter em seus pequenos olhos... suplantada pela dor que não consegue conter... O derramamento incontido de soluços, silenciado nas sombras das celas domésticas... Cruzes, lápides e marcos de cemitérios e depósitos de cadáveres de todo um universo agora tremem com cada ligeiro pensamento de um retorno... à infâmia da dependência.

Direta ou mediada.

Bruta ou sublimada...

Somos o pilar e o pilão. O monolito e a lajota. Distância, separação corrosiva retratada nas entranhas, nas paredes intumescidas da alma. Calma violentada, saídas utópicas para o irremediável. A máxima dor teórica posta em prática e aplaudida. A seriedade do discurso mais hipnótico, condicionando-nos à dilaceração – não podemos negar que nos corrompemos. Permanecemos na mágoa e no pranto saboroso; vertemos irrisórias fontes de esperança requentada. E a reencarnação combatida por parapsicólogos espalhafatosos, histriônicos, ensandecidos de razão e vontade de ver o sangue jorrar.

As pedras nunca mais serão jogadas”, dizem elas. As águas. Não geradas. Uma pulsão pusilânime que aponta para um medo ancestral, hereditário, coletivo nos arquivos da alma. Culpados por isso? Jorrando e jorrados desde sempre e para sempre; catando vida pelas trilhas escurecidas/anoitecidas que conduzem à viela dos minérios.

Cemitérios. Carbonizamos desafetos despidos. Crentes sem um paraíso: pura dor, puro horror, horror puro inexprimível em palavras amanhecidas e dormidas. Cadavérica forma incerta de realçadas feições – são elas; nós bem podemos reconhecê-las; são as vidas reclamadas, exigidas e já destituídas de som, cor, forma e qualquer expressão minimamente familiar.

Não mais correrão as crianças. Lindos contos condicionantes às camas atávicas. O fausto em ornamentos repulsivos de indecoros previstos. Dureza das decisões ensanguentadas dos desamantes.

Não, não podemos crer que somos nós, nem nossas imagens. Críamos em saltos evolutivos, em liberdades de expressão em tempos de opressão autóctone. Mas agora é a dor que vem mostrar seu rosto, pupilas vazadas – olhos arrancados – outras faces que nunca tiveram olhos – bom para elas. Bom nos últimos tempos, nos últimos dias e instantes dos aguardantes impacientes do Armagedom vulcânico tantas vezes citado nas páginas que queimamos nas praças públicas de nossas ridículas e infantiloides vitórias mentais.

Os relicários de minutos produzem sonolências abstrativas. Nada é conforto real. Tudo é fuga descompassada, tudo foge! Porque guardando sonos/sonhos compactados em valises quadridimensionais, bolsas sinistras, sacolas e sacos musguentos – meu Deus! –, corremos em nossa fuga, em nossa dor subitamente acometida, tangidos pela explosiva lembrança do distanciamento jamais esquecido. Tudo em nós, tudo gravado em nosso peito e abdômen, sim, inexoravelmente fazendo-se chamariz do remoído remorso inexplicável, inextrincável – ável. Luminosa expectativa de uma queda interminável.

Nada esquecido, nada banido. As almas e os órgãos internos gemem porque não têm mais força para berrar de desespero. Os externos gemebundam ao retê-lo sem o saber. Abandonamos o Saber.

São as dores do querer. Os amores e o sofrer – sofremos por rimas! E continuamos.

Ah, livrem-me da tarefa de descrever... a fração do colapso... a ação do tempo sobre a pele... luzindo brontossáuricas tormentas arrasadoras de plátanos acetinados, lisos alisamentos consoladores... Por que voltamos aos terrores? Por que vagamos em nossas estradas e estertores? Paraísos impossíveis... Por que nos enganaram tanto desde a infância?

As pedras! Choram. Desde sempre em nós. Voltem, ah! Voltem à sua justaposição inercial identitária; voltem sem alarde e sem medida de tempo-regresso, valentes! Ilusoriamente longe, longe em nós, é lá que guardamos os sonhos e os medos, os mais adoráveis segredos que nos sustentam todos os dias... dias de fantasmais utopias. Valentes, valentes nos críamos. Nunca mais...

Nunca mais. Nunca poderemos reter em nós o minério e tampouco a concretização do mistério. Nossos arquivos de ideários – pranteiam e pranteiam como nossas almas desmembradas.

Nosso riso: caudaloso em esfera medianímica. Perdemos o ciso. A dor deixa seu rastro, e seguimos o prazer sobrevivente.

Sigam-me, sigam-me sem receio algum. Confiem: nada prometo – o mundo já deu sua palavra. Será nossa, portanto, a beleza herdada... se apenas pudermos salvar seu sabor vivo e o veículo de sua livre manifestação!

Salve, salve, salve...

(Morri.)








Segue:

O exílio

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Educação e desinformação (Conclusões / Soluções)


Conclusões. Soluções possíveis.




Devemos admitir, não sem uma certa vergonha pela nossa tradicional passividade ante a coisa pública, que as soluções para problemas tais como crescimento demográfico desmedido, doenças sexualmente transmissíveis, desemprego, violência, dominação política e ideológica se constituem, em termos materiais, mais fáceis de resolver do que supúnhamos, como este trabalho bem tenta demonstrar.

Qualquer solução passa pela questão da informação, quando transformada em conhecimento – um saber útil.

Mas, por que então se diz que o solucionar é apenas “materialmente” fácil? Diz-se tão-somente devido às barreiras impostas pelas facções detentoras de maior poder e informação. E o que indica a existência de tal empecilho? O indica a própria simplicidade de implantação deste defendido plano de esclarecimento público em aspectos familiar, escolar e midiático. Os recursos para isso estão, por assim dizer, totalmente à disposição das autoridades políticas e dos grupos empresariais inegavelmente influentes.

Sabe-se agora o quão “lucrativa” é a pobreza, para a facção dicotomicamente oposta. Vemos os exemplos; vemos o que costuma ocorrer em vésperas de eleições: um eleitorado marginalizado a se arrastar pelo pouco de alento que o candidato lhes oferece, logo depois agradecidíssimo pela “caridade”.

Vemos não só uma coação de informação, mas um declarado empecilho à educação popular – bastando lembrar a dificuldade que é a implantação da Filosofia como disciplina obrigatória no ensino público no Brasil.

Mas o pior de tudo consiste na ampla divulgação, por parte do governo e dos meios de comunicação em geral, de um modelo social imposto como inevitável, copiado da “lei da selva”: uma sociedade que não pode se sustentar fora do paradigma da competição, transferindo até para a dimensão individual o conhecido mote das relações empresariais. Não se fala em cooperação como opção de ordem social, como que justificando a afirmativa de Hobbes: “o homem é o lobo do homem”. E o resultado disso tudo só poderia ser a marginalização.

Assim, com toda a certeza, podemos afirmar ser o conhecimento a chave da verdadeira liberdade – a liberdade à qual visa a ética, e nunca a “liberdade da raposa no galinheiro”, para citar uma metáfora socialista.

Como a resposta para tantas calamidades sociais passa pela educação e pela informação, segue-se que o estímulo à ignorância e à alienação constitui a base da miséria material e moral de um povo.



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A título de complemento, coloco aqui uma relação de lembretes úteis, já divulgados por mim em um panfleto apolítico intitulado “pequenas dicas para mudar o mundo”:



SOLUÇÕES POSSÍVEIS

Geralmente estão relacionadas a um processo de crença e descrença.



* Não acredite que a vitória numa guerra traga paz. A nação que sai derrotada sempre se impregna de rancores nacionalistas.

* Não acredite em tudo que é divulgado pela imprensa em geral. Procure conhecer bem os jornalistas e os ditos formadores de opinião. É facílimo utilizar os meios de comunicação para ovacionar os mesquinhos e denegrir os justos. Desconfiar é tão saudável quanto confiar...

* Não tome por novas e revolucionárias as concepções de ordem social já comprovadamente falhas. Procure conhecer a História que a escola não ensina.

* Procure conhecer seus direitos – os universais, declarados pela ONU, e os constitucionais.

* Não acredite em todas as propagandas, mas divulgue honestamente aquilo em que você acredita.

* Não aceite como artigo de fé aquilo que não passar pelo crivo da razão, e quanto às questões que não dizem respeito à religião mas mesmo assim são abordadas por ela, não creia em absoluto antes que se torne consenso na comunidade científica.

* Acredite que há outras formas de viver socialmente. Sempre há lugares que combinem com o seu jeito de ser. Sempre há pessoas parecidas com você. Comunique-se!

* Não acredite em uma coisa só porque ela é bombástica e grandiosa. Lembre-se: a verdade às vezes é bem sutil, e pode passar despercebida pela maioria das pessoas.

* Não acredite que a competição seja uma garantia de ordem social. Ao contrário; creia sempre na cooperação. Fracos e desajustados merecem oportunidades.

* Creia que você possui grandes talentos e capacidades. É só descobri-los ou desenvolvê-los plenamente com estudos persistentes.

* Procure conhecer as ideologias políticas, suas origens e diferenças. Não adianta se queixar mais tarde!

* Não creia que o melhor da música e das artes em geral seja necessariamente aquilo que a mídia divulga: coisas que a rádio não toca e a TV não mostra, por não fecharem com seus interesses e de seus patrocinadores.

* O controle da sociedade pertence àqueles que detém maior conhecimento. Quanto mais você souber, menos será dominado e enganado.

* Não tenha vergonha de ser justo e caridoso, mas também não se envaideça por isso. Os gestos bons devem ser feitos com naturalidade.

* Não creia que amor e amizade sejam coisas diferentes. Mas aprenda a distinguir os vários tipos de amor.

* Aprecie tudo o que não faz mal. Esse é o trunfo dos bons otimistas: só pelo fato de algo não provocar dano a ninguém, já pode ser admirado. Assim, podemos ampliar nossos gostos e restringir o ódio apenas contra aquilo que merecer mesmo ser odiado, ou seja, tudo que puder ser fonte de sofrimento. Resultado: sentimos menos raiva à toa e nos incomodamos menos por problemas pequenos. Seremos mais “gostadores” e menos “odiadores” – e tudo isso implica em saúde física e espiritual.

* Por fim, não duvide dos seus sentimentos autênticos; não duvide da fé pura e do amor puro, a despeito de tudo que a assim chamada civilização fizer para coagi-lo a ser um androide paranoico.



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BIBLIOGRAFIA

  • FONSECA, António Manuel. Personalidade, projectos vocacionais e formação pessoal e social. Porto Codex: Porto Editora, 1994.
  • GENTILI, Paulo. Pedagogia da exclusão. Crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. 308p.
  • GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. São Paulo: Cortez, 1990. 240p.
  • PIMENTA, Selma Garrido. Orientação vocacional e decisão. Estudo crítico da situação no Brasil. São Paulo: Ed. Loyola, 1979. 136p.



São Leopoldo, junho de 2002






Educação e desinformação (Parte 3 – O papel dos meios de comunicação)


A Mídia Pedagógica. Como os meios de comunicação nos formam e como poderemos nos aproveitar disso para melhorar a sociedade. Redimindo a máquina da desinformação.




Abordaremos agora a problemática acerca do papel que os meios de comunicação exercem na formação do indivíduo.

Formação” de um indivíduo sugere de imediato “educação”. Já vimos que esta não pode, em última instância, ser privilégio exclusivo do sistema escolar – e, mesmo assim, em qualquer biblioteca que se preze, onde há um corredor ou uma estante dedicados ao tema Educação, quase todos os volumes encontráveis versam sobre a educação no contexto escolar.

Uma análise antropológica do assunto revelaria uma série enorme de fatores que levam à formação do ser humano, no campo da educação. Mas, em qualquer sentido que olhemos, não conseguiremos fugir do tema comunicação.

Conhecemos muito bem qual o caráter da maior revolução tecnológica dos últimos tempos – o conjunto de tecnologias que promove os meios ágeis e amplos de processamento de informação. A informação consiste, dessa forma, numa autêntica moeda corrente para os tempos atuais, e, mais que isso, como já vimos, pode ela servir de mecanismo de controle social, pois é histórico que os detentores de maior informação (veja bem: não conhecimento, embora as implicâncias sejam um tanto semelhantes) tenham controle sobre os indivíduos menos informados.

E que atitude pretende-se aqui defender? É a seguinte: que os meios de comunicação de massa (televisão, publicações, o próprio ciberespaço etc.) possam ser efetivados como instrumento educacional positivo e construtivo, pois que, de qualquer forma, estão eles a nos “educar”, no sentido de “condicionar” e “formar”, quer nos apercebamos disso ou não.

Como o conceito popular de “educação” já sugere, de imediato, algo modorrento e tedioso, é compreensível que o povo em sua totalidade repudie ser “educado” quando podia muito bem se valer dos meios de comunicação de massa como veículo de entretenimento para suas vidas tão sofridas...

Logo se percebe, assim, que a institucionalização da educação tem enveredado por caminhos errados, ao ignorar os meios de assimilação condizentes com as aspirações humanas mais essenciais. As crianças percebem isso, e muito bem, mas não sabem como dizê-lo. Ir à escola, para elas, é geralmente um fardo, uma obrigação, mas não uma iniciativa. Isso porque não se costuma utilizar, no ambiente escolar, as deixas do natural instinto de curiosidade do ser humano – algo dentre o que temos de mais sagrado! – com fins pedagógicos.

Portanto, deve-se fazer uso da atratibilidade em matéria de educação.

Mesmo que se consiga implantar um programa de reestruturação do ensino público e, quiçá, distribuir para o povo uma cartilha de planejamento familiar, estas medidas podem bem ser antecedidas, por fatores práticos, pelo já referido uso diligente da comunicação de massa – mas do tipo ao qual todos tenham acesso.

Não nos referimos, por sinal, à Internet. Nos países menos desenvolvidos, onde a desinformação alcança sua culminância, o computador ainda constitui um luxo para a maior parte das pessoas, e, de qualquer forma, por debaixo do seu caráter “optativo” que deixa-nos inteiramente livres para escolher nossa “programação”, pode se ocultar uma ainda maior manipulação – o indivíduo se fia inteiramente naquilo que crê seja uma benéfica liberdade e autonomia, mas... a busca pela informação via Internet se dá com que critérios de escolha? Pessoas de pouca formação ou até pouco caráter não conseguem fazer bom uso das comunicações informatizadas, pois só escolhem o que já atende à sua ignorância. O critério da busca pela informação já é preconcebido, preconceituoso, irrefletidamente, porque condicionado. Assim, não se quebra a barreira da desinformação massificada.

Qual seria, então, o meio perfeito para instrução pública, acessível, barato, atraente e popular, que poderia agora entrar em todas as casas – sobretudo nas mais inóspitas e miseráveis?

Eis aqui um cenário.

Uma noite qualquer, em um dos mais simplórios casebres do mais precário conjunto habitacional brasileiro (a favela), onde faltam muitos itens de comodidade ocidental, é difícil não depararmos com um grupo humano reunido em torno de um aparelho de TV, absorvidos pela contemplação de uma imagem de realidade que possa transcender, de forma virtualizada, a dura e triste realidade factual que se impõe ao redor.

É a este escapismo, à guisa de transcendência, que costumamos chamar “horário nobre”.

Imaginemos agora o gigantesco alcance de um projeto de esclarecimento público bem realizado... que pudesse entrar em todas as casas.

Sabemos que o meio de informação de mais alto alcance, na atualidade, é a televisão. Inútil é, portanto, apenas criticá-la e não enxergar suas potencialidades verdadeiramente libertadoras... A crítica se faz necessária e inevitável, sem dúvida, mas se refere apenas à situação presente, lamentável de fato, mas passível de mudança.

Para concretizarmos tal projeto, urge que combatamos o argumento banalizante, intelectualoide, de que a televisão é em si algo pérfido, maligno ou até demoníaco. Nada é mau em si, a menos que o ser humano assim o torne. Evidentemente, se dissermos em alto e bom tom, sem mais palavras, que “a televisão é o mais eficiente meio de educação”, passaríamos por loucos. E, no entanto, trata-se da mais pura verdade, com mais palavras...

Devemos separar, mais uma vez, as ideias de “ser” e “dever ser”. É agora que se faz ainda mais absurda a ideia de haver “falta de recursos” para isso. O que há, por sinal, é pura falta de vontade. Lembremos dos milhões gastos (e arrecadados) com o entretenimento e reflitamos nas possibilidades.

Ora, é inegável a necessidade de lazer e entretenimento; por que não uni-la às necessidades de esclarecimento?

Não só inútil como também contraproducente é concentrarmos nossa crítica no aspecto visível das atrações televisivas, pois o problema maior não é o que se mostra, mas a ausência do que deveria ser mostrado. Se o povo em geral faz questão de dar tanta audiência a certos programas, é certamente porque quer mesmo ver aquilo. Trata-se de um fato antropológico, e não pode ser encarado com moralismos.

Não se critica, aqui, o que a televisão mostra atualmente, pois seria uma perda de tempo, mero “chover no molhado” ou puro puritanismo (sincero moralismo ou hipocrisia pura e simples), crítica não-construtiva, enfadonha repetição de um conformismo imaginativo coletivo: coletiva preguiça de pensar.

O povo quer sexo: pois que se lhe dê sexo! – mas com a devida instrução. Isso em nada diminuiria o Ibope, caso fosse apresentado aos moldes de entretenimento, e não didaticamente, como numa sala de aula. Poderia haver um quadro fixo em um programa de alta audiência (como os que empesteiam as tardes de domingo), uma espécie de descontraído bate-papo com alguém que entenda do assunto, cientificamente, e ao mesmo tempo não tenha papas na língua e saiba comunicar-se em público, uma figura pública de identificação imediata. Havendo uma sessão de cartas dos espectadores, melhor ainda. O quadro se chamaria “Falando de Sexo” ou algo do tipo, e teria muitos minutos de duração, pois o assunto é inesgotável e absorvente. Não se excluiria eventuais atrativos do erotismo, justamente com o propósito de garantir a audiência, de modo definitivo. Certamente, seria um quadro aguardadíssimo pelos telespectadores, e renderia considerável audiência.

Não se pode tirar o sexo da TV (seria muito moralismo), mas acrescentar um elemento construtivo, instrutivo, ao lado do inevitável entretenimento de cunho erótico.

Bom é nos concentrarmos nas críticas construtivas. E há fortes motivos para colocarmos nosso foco primeiramente na questão de sexualidade.

Atentemos para o relato de um fato muito comum, que aparenta a princípio não guardar relação alguma com a mídia de massa, mas que se revela inadmissível em tempos de tanta celeuma em torno dos avanços da comunicação.

É notória a quantidade dos casos de preservativos que se rompem durante o ato sexual. E nem é preciso recorrermos a um instituto de pesquisa para nos dar conta disso: basta iniciarmos o assunto em qualquer roda de bate-papo, e logo ouviremos alguém (mais de uma pessoa, geralmente) comentar, com descontração, o seu caso de “arrebentamento” que se deve (“invariavelmente”) à má-qualidade do artefato. Há mesmo quem pense em reclamar para o INMETRO... É um fenômeno ocorre até entre universitários e as pessoas em geral que se alegam bem-informadas. O que está acontecendo?

Muito simples: a grandessíssima parte dos bilhões de seres humanos viventes neste planeta ainda não tomou conhecimento de que precisa tirar todo o ar do reservatório espermático localizado na extremidade do preservativo, antes de qualquer relação. Alguns fazem até o contrário: ignorando os mais elementares fatos da física, chegam a pensar que o ar deve ser deixado ali naquele minúsculo espaço, justamente para receber o sêmen...

E lembremos que, ocasionalmente, surgem na televisão nossos ministros da Saúde (quem quer que sejam), em brevíssimas propagandas “informativas”, apenas para dizer o que todos já sabem, e nunca a URGÊNCIA (simplíssima!) que quase todos desconhecem.

A falibilidade das propagandas informativas atuais é, pois, evidente. De nada adianta contratar os serviços de agências de publicidade que recheiam os anúncios de mirabolantes efeitos especiais ou imagens de impacto, se as noções mais importantes acerca de sexualidade (e o que dizer de outros assuntos!) são evitadas recorrendo-se ao insustentabilíssimo argumento do “tabu” popular que não pode ser ferido.

Falar-se em tabu, em circunstâncias assim, é mais que uma hipocrisia; é um autêntico assassinato da inteligência humana. Num país em que a maioria das crianças nem sequer acredita em Papai Noel (e nem o pode); onde a televisão mostra continuamente cenas quase explícitas de sexo fora de um contexto de horário e circunstância ou, pior ainda, violência explícita (sem o “quase”), o mínimo que se poderia fazer seria falar abertamente de temas como sexo e violência, pois as famílias, tanto quanto os núcleos domésticos, já conhecem bem a face fenomênica destes termos.

Os meios de comunicação têm plena capacidade de instruir a população no que esta mais precisa saber: para isto não é necessário que se gaste um só centavo a mais do que já se tem desperdiçado com a desinformação. Poderíamos ter aulas de política e cidadania durante os programas mais populares, sem que estes assuntos se mostrassem modorrentos e tediosos. A mídia possui mil recursos para tornar uma informação interessante e atraente, mas, aqui, continua valendo o mesmo que já dissemos sobre o ensino escolar – jovens que crescem desestimulados a estudar, pela falta de emoção e senso de aventura com que são transmitidos os conhecimentos.

Não há assunto que não possa ser abordado, nada a se esconder. Nada que possa chocar pessoas já acostumadas a assistir, forçadamente, o espetáculo sangrento dos reality shows do cotidiano...

Relembrando o quadro da “favela transcendente” anteriormente citado, pode-se conceber agora o poder de uma campanha efetiva, conjunta entre o Estado e a mídia de massa, no que diz respeito ao controle de natalidade e erradicação de doenças sexualmente transmissíveis, entre outros tópicos que servirão como ponto de partida para um mais amplo processo de reeducação coletiva, culminando na inserção de todas as pessoas na plenitude da cidadania.

Esta campanha, que gostaríamos de não considerar uma mera utopia, poderá chamar-se “Projeto Horário Nobre”; sendo arquitetada após sérios estudos dos temas abordados.









Educação e desinformação (Parte 2 – O papel da escola)


Revendo o papel da escola. Os arcaísmos ainda presentes na educação pública.




O ensino público, de modo geral, não exerce com diligência suas principais funções. E nem pode se utilizar da justificativa falaciosa de que insuficientes recursos financeiros inviabilizariam novos projetos se ensino, como veremos.

Percebemos, de início, um imenso contraponto entre a realidade do ensino e o que este deveria ser. Ora, quais as verdadeiras funções da escola? E qual é o quadro atual?

A ênfase costuma ser na abordagem de questões de conhecimentos gerais, sem objetividade, não-urgentes por excelência. Perde-se tempo num emaranhado de considerações de ordem ontológica, avançando nas ciências específicas de modo a causar no estudante uma sensação de alienação para as questões de ordem social (o mais urgente), sentimentos de inferioridade e submissão surgidos diante do gigantismo das matérias expostas. É gasto um tempo considerável com temas abordados fora do contexto, apesar de sua importância (em outros contextos); sendo isso válido sobretudo para as ciências exatas – todas que bem poderiam ser mostrados apenas em seus conceitos básicos, assimiláveis pelo indivíduo em seu cotidiano. Não se tem em vista uma objetividade prática que possa ser prontamente utilizada pelo aluno, na qual este possa se inserir imediatamente. Por exemplo, com relação à Matemática, deveria haver uma ênfase no aspecto financeiro (taxas, juros, investimentos, em suma: uma contextualização humana, prática e social, sintonizada com o presente e preparatória para o futuro) e jamais, a nível de ensino de 1o e 2o graus, tamanha celeuma em torno de problemas de geometria aplicada, em suas minúcias, que deveria ser ensinada apenas àqueles indivíduos que já optassem pela carreira matemática, numa universidade.

Citemos o exemplo do autor deste trabalho: somente foi “gostar” de matemática ao realizar um curso de Auxiliar de Escritório, no qual descobriu a grande importância prática da Matemática Financeira. Vejam bem: tratava-se de um curso opcional, e a referida matéria, nessa contextualização, nem sequer consta no currículo de 1o ou 2o graus. Ou seja, quase ninguém, no Brasil (e no mundo, presume-se) fica sabendo que uma disciplina geralmente encarada como “chatíssima” pode ser “legal”.

Sim, a escola se pretende formadora de profissionais e de caracteres civicamente humanos. Mas, como se não bastasse renegar estas funções a postos secundários diante das questões científicas e de conhecimentos gerais (evidentemente importantes e imprescindíveis, mas não como prioridades), ainda as transmite de forma desorganizada (ao menos como chegam até um aluno da rede pública, mesmo que, em tese, sejam elaboradas com alguma metodologia) e desobjetivada, até mesmo ocasionando a destruição, por assim dizer, dos próprios alegados objetivos.

Ocorre, de fato, uma produção de marginalização e exclusão social por parte do atual ensino institucionalizado. Como esta se dá?

Ora, não há um devido acompanhamento do estudante, desde a sua infância, no que diz respeito a um direcionamento às futuras atividades profissionais. Em suma, não há orientação vocacional de forma alguma – e esta ausência é a principal causa da marginalização.

Quando costuma haver o ensino profissionalizante? Na etapa final da adolescência, sem que o indivíduo tenha sequer noção do que seja “vocação”. Ocorre que não basta se “querer” exercer esta ou aquela profissão, visando unicamente o maior lucro, ou o status social, ou ainda acatando decisões familiares ou provenientes de um senso comum (influência de amigos, geralmente), se esta profissão assim tão irrefletidamente escolhida não estiver de acordo com as predisposições naturais do caráter íntimo da pessoa.

Faz-se necessário, para isto, uma forma de ensino que seja mais de observação e análise de comportamentos, ao invés de imposições.

Por que não empreendê-lo desde a infância do estudante?

O ensino profissionalizante não deve ser prescindido na infância sob a alegação de que crianças ainda não podem decidir sobre seu destino profissional. Alegação sensata, de fato, mas não se pretende aqui conduzir arbitrariamente o indivíduo a seguir por caminhos contrários à suas disposições, mas, justamente, iniciar um programa de análise criteriosa do comportamento da criança, em todas as suas atividades, para que se descubra, por meio da Psicologia, quais os possíveis caminhos vocacionais que a personalidade natural desta criança indicará.

Assim, se o professor observar que o aluno X demonstra desempenho notável para as artes plásticas, logo entrará em contato com os pais ou os responsáveis por ele, e lhes informará da necessidade de matricular a criança ou o jovem em cursos especializados, para que possa desenvolver plenamente suas naturais habilidades, tornando-se, por fim, ao mesmo tempo um profissional de êxito e uma pessoa humana plenamente realizada. O professor e a escola poderiam, ainda, indicar as instituições adequadas para a inserção do aluno daquele ponto em diante, caso o adulto responsável solicite maiores esclarecimentos.

Em suma: cada ser humano tem uma ou mais vocações bem pessoais e especiais, que devem ser descobertas o mais cedo possível para que haja um planejamento de futuro profissional e de inserção social. Nenhum ser humano, não importando quem seja, é em essência inútil ou vagabundo: o que há é tão-somente pessoas que ainda não descobriram seus reais talentos e capacidades, para poder aperfeiçoá-los ainda mais, com estudos persistentes.

Não haveria assim mais desempregados e desocupados, ou ainda indivíduos insatisfeitos com seu emprego. Todos trabalhariam bem, se fizessem o seu melhor; mas para isso cabe que se diga: não se trata do melhor em qualquer setor, mas apenas daquele que corresponder às reais capacitações do ser.

A grande urgência, o critério norteador de tudo, como já dissemos, é garantir a perfeita inserção do aluno na sociedade. No caso, a sua sociedade, aquela que lhe é própria e peculiar por disposição natural.

Voltando neste ponto à questão da educação escolar, percebemos que esta não opera nem ao menos no sentido de promover uma saída para a diferença de personalidades entre os alunos. Como as pessoas não são iguais em aspirações e aptidões, é insensato que se condicione todos ao mesmo tratamento, uma vez que a própria Justiça já tem seus compreensíveis relativismos. É por tudo isso que se insiste na importância de um acompanhamento, até para a descoberta dos ambientes de estudo que mais se ajustem à personalidade do aluno e a seus talentos potenciais.

Bem, a esta altura já vimos claramente que há um grande problema de foco de prioridade no ensino público, associado a um notório desinteresse pelo futuro do estudante. Já vimos que tal sistema educacional funciona como uma verdadeira “máquina” de exclusão social, uma vez que gera desemprego, subemprego, má-inserção na sociedade, marginalização em geral e uma enorme falta de perspectivas para com o futuro.

Agora, para complementar a tese, colocaremos algumas sugestões de disciplinas viáveis a serem implantadas no currículo básico do ensino, todas importantíssimas segundo o critério de prioridade:

PLANEJAMENTO FAMILIAR;
PROGRAMAS DE SAÚDE (incluindo primeiros socorros);
ORIENTAÇÃO VOCACIONAL;
FILOSOFIA (destaque para o aspecto crítico e o estudo dos valores);
ÉTICA (mais objetiva que o ensino religioso);
LEGISLAÇÃO etc.

Algumas já estão, de fato, presentes no cotidiano de certas instituições, mas não com o caráter de obrigatoriedade (no melhor dos sentidos), e nem sequer recebem a ênfase merecida, sendo geralmente consideradas inferiores, em importância, à matérias como Matemática, Física, Química etc., quando, em realidade, são muito mais necessárias segundo o já exposto critério.

Evidentemente, os assuntos seriam abordados com diferentes níveis de aprofundamento em cada graduação do ensino.

Ocorre, entretanto, que certas disciplinas já “clássicas”, não obstante sua consagração e tradicional presença, nem sempre visam a plena realização do ser humano, visto que excluem certos pontos fundamentais que lhe dizem respeito.

Vejamos, por exemplo, a História. Novamente citando uma experiência deste autor, mencionemos o fato de este apenas ter descoberto as reais implicâncias de conceitos como “liberalismo” e “globalização” a partir do momento que se incluíra no estudo superior; em uma universidade. Ora, nunca desmerecendo as universidades mas antes criticando o ensino público de 1o e 2o graus no Brasil, pergunta-se o porquê deste ensino dificilmente completar, em um ano letivo, a parte mais importante do estudo da História Universal – a parte que antecede imediatamente o atual quadro social. Note agora que, no caso, “liberalismo” nem pode ser considerado algo novo (apesar do nome “moderno” com que batizaram sua versão maligna), mas, de qualquer forma, o ensino público brasileiro tem como capricho dar por encerrada “sua” História lá pelos meados do século 19, e, mesmo quando aborda questões mais recentes, geralmente o é com referência aos fatos consequentes, restritamente, friamente, sem revelar o fator IDEOLÓGICO que permeia as etapas da História.

Pode-se chegar a mostrar um quadro geral do que foram as duas grandes guerras e acontecimentos do período, mas palavras como “socialismo”, “capitalismo”, “niilismo”, “revisionismo”, e, sobretudo (o que é mais vexatório), “revivalismo”, são, quando não mencionadas, sub-relevadas.

Indo mais longe: não haveria agora uma orientação ideológica por trás dessa má-realização do ensino? É irresistível concluirmos por isso, diante do que foi exposto.

O que nos induz a assim pensar é a própria clara viabilidade material da implantação deste programa de reestruturação do ensino. Não se trata de investir em tecnologia; este é assunto paralelo. Não se trata de contratar novos professores – embora a necessidade constante disso já seja banal em nosso país. Basta que todos sigam a nova cartilha, dentro de sua especialidade. Em suma: não é possível que se leve a sério o argumento de que faltam “verbas” para isso, quando a máquina pública gasta demais em programas educacionais mal direcionados e de esclarecimento público que mais desinformam do que informam...

O que está acontecendo é uma “contrapedagogia” que pode estar servindo de veículo para uma forma de opressão organizada. Ora, o povo em sua totalidade nem ao menos tem ligeiras noções do que seja a natureza e a origem das principais facções políticas, religiosas e filosóficas! Se o soubesse, provavelmente não votaria em nenhum partido que hoje ostentasse um L ou um N em sua sigla, ou até duvidaria que alguma vez o próprio Deus tenha dito “Não deixarás viver a feiticeira” nas páginas de um livro escrito por seu dedo...

Por que só aprendemos certas coisas tão relevantes apenas quando cursamos uma faculdade? Quanto fanatismo e quanto sofrimento não são resultado de simples falta de informação – em um mundo que se gaba de ter chegado à tamanha evolução tecnológica, no que diz respeito às comunicações?!

É paradoxal, é infame, mas reconheçamos que vivemos uma crise de informação na Era da Informação. Resta-nos saber se esta crise foi provocada, com algum propósito pernicioso, ou se é oriunda de mera ignorância.

Ignorância, por parte dos detentores de maior informação? É altamente improvável. Sabemos, pela própria História, que a partir do momento em que a humanidade não mais se deixa governar pelos detentores da força bruta, este governo – seria melhor dizer “controle” – passa para os mais bem informados.

Forçoso é concluirmos pela existência de um fator autoconsciente de fomentação de desinformação.








Educação e desinformação (Introdução / Parte 1 – O papel da família)



INTRODUÇÃO. A pedagogia da desinformação.



Falaremos sobre questões urgentes. Questões referentes a possibilidades e desperdícios – sobretudo o desperdício de informação. Abordaremos sobretudo o contraste existente entre a informação inútil e a informação útil, segundo o critério de prioridade com relação às aplicações sociais do conhecimento.

Será revelada a existência de uma crise da atualidade, crise que constitui um paradoxo de grandes implicâncias no âmbito da sociedade. Serão apresentadas, porém, propostas de soluções viáveis para cada problema discutido.

Analisaremos os meios pelos quais a educação chega até o indivíduo – as “vias” da educação. Tem-se por hábito considerar a família como sendo o ponto inicial do processo pedagógico, e a escola como o último. Há, porém, varias questões controversas a se considerar com relação a este quadro simplista e ilusoriamente confortador.

Como não poderíamos esgotar as possibilidades de abordagem, propomos que seja desenvolvido um posterior debate, de sérias implicâncias. Sérias porque envolvem questões como subjugação humana, marginalização, controle social e, sobretudo, manipulação de informação.

Visto que as relações existentes entrem a educação pública e o controle da informação são assuntos que urgem sejam revistos, por muito nos dizerem respeito, exortamos o leitor a ter uma participação ativa no debate, seja pelo contato direto com este autor ou com seu envolvimento pessoal na problemática – em complacência, denúncia ou renúncia.



Revendo o papel da família. Os maus fundamentos da tradição.




Evidenciaremos agora quais os males de se separar rigidamente certas áreas da educação, quanto à função, como sendo algumas de privilégio exclusivo da família e outras da escola.

Pergunta-se: qual garantia podemos ter de que a família irá desempenhar bem as funções tradicionalmente reservadas para ela? Seria a família tão bem organizada como uma empresa ou uma instituição, cujo funcionamento decorre de princípios metodológicos? Não: sua “pedagogia” não tem garantia científica alguma (muito necessária em certas questões de psicologia) e, mesmo quando tal “pedagogia” produz acertos, estes dificilmente são decorrentes de um planejamento isento de ideias comuns, que sejam o substrato do aspecto mais negativo do relativismo cultural.

Assim, um planejamento especial para os núcleos familiares deveria ser uma iniciativa do Estado, a partir de teorias desenvolvidas sobre fundamentos psicológicos, ao contrário do que sempre ocorre: uma organização quase fortuita de fatores sociais. (Para todos os fins, considera-se aqui “quase fortuito” um sistema familiar cuja “base” se mostre desprovida de ciência.)

Ora, seria temerário implantar um projeto nesse sentido precipitadamente, tendo-se em vista a notória falta de consenso entre as facções “produtoras de pensamento” que poderiam elaborar métodos arbitrários e precipitadas de “controle” social. Tudo deveria ser dirigido com criterioso estudo, e este ainda está sendo efetuado.

Como o que se discute aqui é a educação, outro problema surge então: trata-se da dificuldade (ou plausibilidade, podemos discutir) de se implantar um mecanismo de “controle de educação” a nível familiar. Para o sistema escolar, ao menos, há um controle, efetuado pelos órgãos públicos – Ministérios e Secretarias especiais. Mais uma vez insistimos: como garantir que a instrução dada pelos pais – vindos de tantas origens, de tão variadas crenças e opiniões – preencha os requisitos de uma objetiva cartilha de educação doméstica, ainda mais sendo difícil de implantar por mostrar uma diretriz universalizante?

Pensemos, portanto, numa proposta conciliatória. Ou, ao menos, um fator de transição, a título de conciliação.

Diante dos fatores apresentados, e retomando o pensamento inicial, podemos afirmar que a maior garantia de cientificidade da educação a nível familiar consiste em incluir este tipo de educação também no currículo do ensino público. É, realmente, um meio bastante eficaz de se aplicar tanto as informações mais básicas sobre planejamento familiar quanto de efetuar o necessário controle do método e dos resultados; eficaz também quanto aos fatores éticos, por preservar o aspecto positivo da variedade cultural.

Noções mais básicas de planejamento familiar?” surpreender-se-ão alguns, alegando que a secular tradição herdada de suas avós seja um paradigma inquebrantável. Mas, convenhamos: por um lado, “fazer filhos” é fácil demais, enquanto que o mero instinto é insuficiente para conduzir um lar num mundo sadicamente tecnocrático como o dos tempos atuais; e, ainda, com relação ao alegado valor da tradição, pode-se dizer que esta deve submeter-se a um conjunto de teses atualizadas, pesquisadas por uma cúpula científica reconhecidamente especializada. A própria ideia de tradição, por excelência fixista e não-discutível, já exclui de pronto o fator mudança – o “motor” da evolução. Trata-se de um código herdado, uma espécie de DNA inexorável, pronto a lutar contra qualquer mutação que venha a se imiscuir em sua estrutura.

Faz-se necessário, portanto, uma engenharia cultural.

Inevitavelmente, surgem mudanças no âmbito social; urge, agora, que se considere se a maneira mais profícua de encará-las seria antepondo a estas as barreiras culturais produzidas pela tradição, ou então enviando à luta (ou à concórdia) conceitos e atitudes também mutantes (atualização mútua do quadro problema-solução), ou, ainda, aproveitar-se simultaneamente, com o devido critério, dos melhores aspectos da tradição e também do lado mais positivo da mudança dos paradigmas sociais.

Parece evidente a superioridade da última alternativa.

Ocorre que o problema é ainda maior: há famílias que nem mesmo se mostram dignas de tal alcunha, resultantes de resquícios de uniões fortuitas e descompromissadas, que acarretam uma desintegração da personalidade dos indivíduos em formação e, por outro lado, também há exemplos de lares que conseguem se manter satisfatoriamente sem se valer dos tradicionais modelos patriarcais, devido a uma organização doméstica muito particular e eficaz, seguindo uma série de regras de sobrevivência que bem poderiam ser estudadas e catalogadas com mais profundidade, para uma providencial aplicação social.

É por causa disto que hoje em dia torna-se mais conveniente falar de “núcleos domésticos”.

De tudo que foi evidenciado, podemos concluir que a família não pode ter, por direito, a primazia no quadro de fatores que levam à educação de um indivíduo, enquanto mostrar-se assim tão aleatória, tão faccionária, tão condicionada pelo meio ao ponto de não sustentar uma metodologia pedagógica com o conhecimento da causa.

É justamente por causa disto que defendemos a ideia de que o ensino público deveria ensinar ao indivíduo TUDO que outrora cabia à família – quer esta ensine ou não. Não se tira desta, de modo algum, seu papel na educação, mas, por via das dúvidas, faz-se com que a escola seja de fato um Lar para o indivíduo em formação, uma vez que não haja meios absolutos de garantir que os assim chamados “lares” o sejam de fato.

Posteriormente, quando os órgãos do Estado já tiverem elaborado um amplo projeto de planejamento familiar público, este poderia ser implantado conjuntamente a uma campanha de conscientização popular – coisa que, infelizmente, nunca costuma ser bem realizada, sobretudo no Brasil, seja por simples má-vontade ou por interesses excusos...

Entretanto, ainda fica no ar a questão: não haveria um meio ainda mais eficiente de educação pública, fora do tradicional quadro lar-escola? Os tempos atuais não indicariam qual o caminho de possíveis novos recursos cabíveis para isso? É o que abordaremos na sequência.








Uma nuvem singular





Você não sabe o que há por trás desta chuva.
Se soubesse, já estaria em casa, rezando,
ou fazendo algo mais efetivo, se possível.
Não, esponja de aço na pele agora também é
manifestação de romantismo arcaico.
Você quis a nostalgia,
logo quis também concretizar a distorção
da linha do tempo,
ao resgatar emoções doces como
relva, água, risos, corpos, almas.
Não posso condenar você.
Apenas digo, frio na linguagem
e queimando por dentro:
você não sabe o que significa esta chuva.

O perigo é doce,
o perigo nos conforta,
sua face de veludo
projetando reminiscências incensadas.
Nós aconchegamos sobre o peito liso do perigo,
entre preces silenciosas de agradecimento.

Ainda vejo as duas crianças sob a chuva,
inconsequentes mas tudo sabendo,
sem contar as horas,
simplesmente vivendo, absorvendo,
já cometendo
o erro fatal, original,
de voltar as costas para o sol.

Não, você não sabe o que há por trás desta chuva.
Meus pêsames.








O sentimento





Fico meio sem saber o que dizer
e não é porque já saibas,
talvez nunca chegues perto de saber;
o que sinto não tem explicação:
não é sexo, mas complexo;
não é família, mas íntimo.
Só sei que é forte, intenso,
TUDO e algo mais.
Transcende o que conheço
e, provavelmente, o que tu conheces
pois é inusitado demais
ver e ser visto tão simultaneamente.

Nunca quis ser repetitivo...
fazer coro às serenatas antigas...
mas o amor deixa sua impressão ímpar
sobre o par
e então ligo o rádio
e canto qualquer coisa,
danço tudo
(torto mas autêntico)
e exulto sem contrição:
SOU HUMANO
HUMANO
HUMANO até todo o universo ouvir
e eu me assegurar
de que o sentimento é realmente puro.