domingo, 30 de junho de 2013

Uranismo





Tulipas de inquietações erógenas
concedes a teu amo-escravo temporal.
Tormentas cálidas
desabas em meus subtrópicos.
Soergues gentil e solenemente
a sutil foice que desnivela
minha plantação sazonal.

Tens um arco-íris nas libélulas das tuas têmporas,
duas pepitas de verdade nos escombros do teu manto;
de acalantos pintaste meu passado
e decoraste de intrigantes espelhos
meus corredores mentais.

Só me resta cantar-te o amor
que outros já cantaram,
cantando porém eles inocuamente
o que pasmo pasmificantemente harmonizo
na moldura do teu espaço interior.

Sim, cheguei ao ponto.
Juntos chegaremos ao cais do alívio.
Ajoelharemos nas brasas do inexplicável.
Dançaremos o ritmo antropofágico.
Despidos brandiremos os bastões analógicos.

Teu nome em teu tempo.
Tua vida em minha vida.
A vitória sobre as eras.








A jornada espacial de Al-Erik





I

Etapa caótica.

Câmara astroébria para o volver do pacificador.
Estímulo de jato nebulificador – eus,
nossos eles.
Renasço, ainda! E sempre.
Algo sou.
Ao amanhecer – e de dentro pulsa.

Tu pulsas ao compasso do influxo.
És à toa, mas impossibilitado de desatrelado voar.
Amplio então teus interstícios célebres;
astros em desfile para o vórtice.
Alívio intraósmico – cada qual pacifica
de cada um o mundo.

Câmbio perispermático das novas criogenias
ao som dos cantares de núpcias desiguais.
Os celerados em profusão 
uma invasão.
Nossa canção? Inserida nas cenas terríveis.
Apenas canta: é a tua opção,
como dizes.

Outrora vagávamos divinos...
Mas é novamente mundana a celebração!
As asas biônicas se partem
e partem, perdem-se
por sobre os assombrosos altares reedificados.
Fé branca em cena:
o Asco Supremo. De sobreviver. Aqui.
Nova direção, por favor.

Paralelismo do terror calador.

II

O espaço se amplia ao redor do sentido colorizador.

Arcano comício de seres hipertrofiados:
rodas rasgantes dos olhos jorrantes.

Das vítimas do dogma.
Da desolação da ciência incompleta.
Dos mundos vazios de sentido.
Cadente, vivente irmão...
Informe sofrimento.
Nomias, logias enormes
em nós.
Sem uma seta para libertação.
Muito além do que conseguimos suportar
sem murmúrio.

O espaço – derretem-se as dóceis representações.

Interno – novas noções de calor terreno.

A suprema carência das carícias matinais.

III

Somos os sentimentos vívidos, aperolados.
Somos calores de unidas mãos.
Somos mais irmãos que o parágrafo do decreto.
Seremos reais ao acordo, desperto acerto.

Em meses de sol e fulgor,
em tréguas da máquina dor,
ressurgimos extáticos.

O rito do momento: fragmentos cintilantes
de um paraíso possível.

Ível: glória risível?

IV

A tarja fusível do diadema da criatura suprema
tange o fluir do veneno dialético transubstanciado.

Por isso escoamos.
Voamos impassíveis pelos escombros.
Visitamos os templos mecânicos de outrora
como chuva sobre plantações.

Mas é ainda interno demais,
não faz emocionar o nervo. Palavras brancas.
Brandas viagens alucinatórias em páginas.
O que poderia arrancar do chão
esta geração?

Maniqueísmo da arte destroçando
a vitalidade desenhada pelos inocentes.
Surrealismo maiúsculo perdendo
a identidade decomposta na irrazão de seu ser.

E ainda viajamos sulfúricos;
navegamos em barcos oníricos recortados
no matiz redentor.

Mas a máquina novamente nos traga
e afundamos no olho oco do acaso.

Não raso – me desculpe...

V

Não é cada augúrio um mal ditado,
olhado desde cima com soberba
pré-adâmica sem ancestralidade?

Você tudo tem a ver com isso,
exceto que respira
o que lhe é exterior.

Eu vejo o escoamento de sua intuitividade
sendo rabiscada indiferentemente
às brasas e chispas constantes
das águas quer ardem e corroem
nosso mastaréu de lousa branca.

(Qual a cor da pele de Eva?)

VI

{Mitocôndrias como bolhas-limite
de nebulosas de antimatéria.}

Plêiades incendiadas evanescendo
pela octogésima tarde cíclica de solidão
no luto eterno da poesia solar.

Acasalamento de peixes-lua
à luz de Lúcifer ex-Júpiter.

(A esperança derradeira na aurora estrondosa.)
..................................................

Minha mão agora é lenta
enquanto meu olhar persiste no vasculhamento
para extrair, assim, beleza do improvável,
mesmo que isso me doa
no órgão da primeira proposta.
(Ainda sou livre pelo lado de dentro
do vulcão gelado.)

VII

O aborto das estrelas
chorando a mágoa expansiva
sobre o cosmonauta
há eras sem coração...

Uma liquefação suspensa
nas membranas-organelas vistosas
da imensa paisagem subpartícula.

É como flui a última lágrima,
calada sem perspectiva.

Calo com um negro afunilar...
Espiralo no silêncio enlutado
do verbo-sacrifício.








sexta-feira, 28 de junho de 2013

Heróis do cinema marginal

























Heróis do cinema marginal,
ensalivados na boca da noite,
estuprados pelos anjos sodomitas,
massacrados pelos velhos biblistas
do ateísmo clerical...

Luminares do questionamento,
sem respostas no tormento,
torturados pelo vento,
desafiados pelos tempos
de guerra e paz
terrífica e fugaz...

Cretinismo das massas
a sufocar recém-nascidos,
cinismo da nova elite
em estratégicos bramidos.

Passeios públicos descorados:
alguém morrerá até as 3 horas.
Os anos gastos na crença corrosiva
clamam pela vida viva.
Viva e Sorte
faca e corte?
Mútuo desejo de aniquilação
insatisfeito.

O tombo perfeito.
A risada estrepitosa.
Que nada! – é gargalhada, é claque,
é a ZOMBARIA UNIVERSAL
sobre o minúsculo.

Haja alento.
A opção (única) do pranto prazeroso:
o velho filme outra vez.
Urbanas perambulações conceituais.
Passamos, é isto.

A infância de um monstro sagrado,
o retrato de uma sina.
Minha lágrima é o desafio
a toda pétrea estrutura.

Choremos
vivos na fervura.





Corredor





Tensão.

À noite ouço cigarras e à tarde gafanhotos;
sapos, marimbondos, moscas que não querem aparecer.
Nenhum deles deveria aparecer agora
para me tirar a atenção.
Atenção, atenção / presto atenção
à porta, ao corredor, à parede sem fim;
eterna através dos minutos
do relógio que vejo no lugar dos insetos verdes,
dos gafanhotos, répteis escamados, um louva-a-deus
que some ao ver ou sentir a luz da manhã.

Preciso ver o oculto por aquela porta sombria,
mergulhada no âmago do lúgubre;
agonia vulcânica, escuridão da minha mente
fixa na maçaneta, prateada
como os pássaros blindados, no anil
subitamente avermelhado em tempestade,
antes de chegar a noite
que está longe daqui... e que continue por lá!
pois agora me apeguei ao calor
que o corredor terminado com a porta
sempre me traz, rival do sol ausente.

Penso sentir os insetos verdes aqui.
Vermes suspiram na corda, ao me contemplar
a contemplar a porta no fim do corredor (eternal).
E não consigo me lembrar por onde vim,
como cheguei a este universo ora relampejante,
ora silencioso como as cigarras do futuro.
Só sei que vim correndo pelos corredores
e as cordas só existem na minha cabeça...

...voltada para a porta.
Só eu posso saber o que lá atrás se esconde,
entretanto não pude ainda me descobrir:
a escultura de cerâmica que quebrei me dirá o caminho
entre o céu e o inferno terrestres.

Minha vida inteira
é uma fração do invisível.
Nada mais importa,
não me importa o que você disser;
por mais que uma pessoa pense, reflita sobre mim,
não me verá mas só a porta, onde os pesadelos,
todos os pesadelos, acabam para dar início
aos sonhos de portas abertas... abertas... abertas...
e lá dentro trevas.








“Eles” (paranoia da conspiração extraterrestre)





Eles estão entre nós.
Sim, posso perceber isso todos os dias.
Nas ruas, nos bares, nas lojas
é só ver como eles lhe atendem.
Você percebe o estratagema no sorriso;
você percebe que não é real,
não é como um ser humano sorriria.
As entrelinhas das frases
preste atenção!
São muitas as pistas notáveis aqui,
onde viemos pousar,
posar esta noite.

Não tivemos escolha.
Pagamos pelo mais seguro recanto,
o que significa o mesmo que
o menos suspeito dentre os infernos.
E agora mil olhos nos observam,
para que sejamos como eles.
Para sempre aprisionados
na teologia do caos.

Observe o caos destas estradas!
Sim, eles têm parte nisso.
Eles estão por trás de tudo que se move
desordenadamente.
Das primeiras às últimas páginas
lá estão eles.

A obra deles.

Sim, começam nos distraindo
com os quadrinhos,
depois ditam o fado do nosso dia
na seção do horóscopo,
e daí seguem excitando nossos instintos
de mil maneiras:
esporte, política, sexo, religião...
para finalmente nos dilacerarem
na página policial!
Como se nada tivessem a ver com isso.
Com a dor incurável em nossas almas
corroídas.

Tudo devido à ridícula dívida
com os Primeiros Liberais.
Os anjos da permissão.
Os arautos da perdição.
Não duvide que eles também tiveram sua parte nisso,
legislando e ditando futuros.

E agora já estão dentro de nossos lares;
céus! distinga o inumano
do mais familiar afeto,
se puder!
Cada mente, uma escrava
do medo contemporâneo
e contente!
Orgulhando-se do medo,
estampando-o no papel de parede,
preenchendo fissuras na parede
com a massa versátil do medo.

Mas não ousam encarar a realidade,
reconhecer a ação e a presença DELES
no âmago de cada distúrbio
urbano.
Simplesmente perecerão rendidos, atordoados
pelo montante de sonhos não realizados.
Sonhos deste mundo, por sinal,
completamente alheios ao bizarro raciocínio
dos seres infiltrados.

Infiltrados.
Sorrateiramente, amigavelmente,
intimamente – infiltrados!
Induzindo nossas decisões,
os remendos das decisões desastrosas,
os desastres em si – compactuados.

Ah! Quem dera pudéssemos
arrancar de vocês cada segredo sangrento...
Autopsiá-los vivos, lenta e trabalhosamente,
com nossos olhos atentos,
espantados ante tantas revelações
confirmadas suposições!
O que não terão a esconder?
O que ainda escondem, maliciosamente?
As táticas mundo-abertas-tecedoras
em nossos cafés da manhã nebulosos?

Mostrem seus rostos, vamos!
O que têm a temer e a esconder?
Pensam que a raça humana é feita
só de medo e ódio?
O que pensam que somos,
nós?
E quem são vocês, afinal?

E o que fizeram de nosso lar,
nossa velha e querida Terra?
Um pequeno joguete em suas mãos viscosas,
pequenas, delgadas, gananciosas?
Voltem, voltem para o seu céu,
voltem e deixem-nos em paz
em nosso belo inferno,
em nossa Terra
que nunca havia antes perdido sua serenidade,
até sua chegada,
nossa maldição!






CONTINUAÇÃO: