domingo, 19 de janeiro de 2020

Mega conspiração





Rêmoras assistem, sem paixão,
um novo frenesi dos tubarões,
pra ser meu o remorso.

Serpentes marinhas longe do mar,
chupacabras sem ter a quem chupar,
pra ser meu o remorso.

Vampiros aliens da orla de Plutão
fugiram da Área 51 de Viamão,
pra ser meu o remorso.

Morcegos frugívoros
condenados a sugar, pela vida,
o sangue coagulado
da minha jugular maldita,
pra ser meu o remorso.









“Errante”





Errante.
Eternidades em instantes
vêm passar diante dos olhos
daquele que anda a pensar
que a estrada
é a única certeza dada
aos que vão buscar ao longe
respostas que o vento tange,
sem pausar.

Intenso, o céu
é um cristalino lençol de bênçãos,
e a chuva afaga a mente
outrora turva de tensões.
Ao tardar esta partida,
quase amargou-se-me a razão.
O horizonte não mais queria
atrás dos montes se ocultar.

Etapas e degraus
da vital escalada ao centro regente
de meus movimentos.

Errando, vejo emergir de mim,
assim como uma ilha de memórias
num oceano de um planeta longínquo,
a inquieta razão
que me define e faz viver.

Levo aonde eu for, comigo,
vinda do recôndito do que sou,
a única coisa que chamo de país
depois daquele que se desfez.

“Errante”.









segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Sangue, suor e lágrimas





Sangue, suor e lágrimas,
condição terráquea.

O silêncio das bibliotecas
pouco se diferencia
da trilha easy listening
do cochilo de um magnata
em sua ilha.

Sangue, suor e lágrimas,
condição terráquea.

Sua filosofia se esforça
para se encaixar
nas normas ABNT,
enquanto a minha se contorce
e se desdobra
para que eu possa sobreviver.

Sangue, suor e lágrimas,
condição terráquea.

Mas apesar de tudo,
eu ainda posso sonhar
com os campos de morangos
que a gente possa plantar,
os campos de morangos
que a gente mesmo plante,
os campos de morangos
que a gente mesmo colha
até se fartar.

Sua rebuscada prosa
talvez lhe garanta
um novo prêmio literário,
mas num desafio de trovas,
perde para este que canta,
o poeta operário.

Você não precisa ser
um metalúrgico para saber
do lado sólido da vida,
nem cultivar feridas;
ou descrever com precisão
cirúrgica a visão
de um universo ideal
nunca vivenciado como tal,
porque
sangue, suor e lágrimas
é o que está diante das suas córneas.
Sangue, suor e lágrimas
sustentam sua paz inglória.

Mas apesar de tudo,
eu ainda posso sonhar
com os campos de morangos
que a gente possa plantar,
os campos de morangos
que a gente mesmo plante,
os campos de morangos
que a gente mesmo colha
até se fartar.










Homenagem ao meu amigo imaginário





Neste que é o meu momento mais solitário,
homenageio o meu amigo imaginário.
Com quem mais preciso conversar agora.
Os olhos que quero contemplar nesta hora.

Se eu falar de amor, ele sabe os 3 tipos;
se eu mencionar um autor, ele conhece o livro.
E conhece também as mesmas lendas e mitos,
até os que finjo que acredito.

E caminhamos nas mesmas alamedas,
admitimos ter os mesmos medos...
Eu sei que alguém sempre me ouve.
Alguém me ouve, perto ou longe.

Ele fala de ufologia, de parapsicologia;
até dos mistérios absurdos da criptozoologia.
Ele também consegue alternar na playlist
Ramones e Pink Floyd, e vai
de Billie Jean a Paranoid.

Nossos silêncios são oculta telepatia,
nossas visões preenchem os vazios...
Eu sei que alguém sempre me ouve.
Perto ou longe, alguém me ouve.

Ele se joga no sofá de pés para o ar,
compartilha a pipoca e os Cheetos,
conhece todos os filmes antigos,
os filósofos esquisitos,
e as HQs de Alan Moore e os mangás
que ninguém entendeu,
só ele e eu.

Aquele que eu já conhecia desde bem pequeno,
e à mil por hora no gira-gira, mantinha-se sereno;
e em minha caxumba, me trouxe o vinil
do Juninho Bill, e comigo ouviu.

Um dia este diamante gigante
se espatifará e se fragmentará
em milhões de rostos felizes,
a longa espera de uma vida.
Mas, por enquanto,
eu sei que alguém me ouve.
Alguém que me ouve
neste exato instante.

...e não gostamos de super-heróis,
a menos que sejam
nós.








domingo, 5 de janeiro de 2020

Maluquete (você diz)





Eu sou maluquete, você diz.
Mas sou realista ao meu modo.
Eu só consigo suportar o que se diz real
cultivando um tipo de beleza,
que é muito pessoal,
mas que posso compartilhar.

Eu vou andando em trilhas,
deixando milhas de saudades do que vi
em olhos que falavam mais do que palavras
de como se ignorava a vontade de amar
sem se controlar,
o impulso vital.

Eu vi os céus se abrirem no estio,
e o destino dos rios;
vivi o tempo do mais terno rocio,
quando a abelha zumbiu
sobre a flor que se abriu
e a criança sorriu.

Eu sou maluquete, você diz.
Mas seria exagero dizer que sou feliz.
Nem penso tanto na minha felicidade,
enquanto alguns de meus irmãos
nem sabem da irmandade,
acham fatalidade em cada relação.

Mas eu vi o elo entre os mil tons de cor,
e da vida o fulgor.
De mim e de você, vejo as emanações
dos desejos guardiões
das puras sensações
para o bem da Expressão.

(A realidade profunda
deixa-se acessar.
A senha do acesso é:
“espinhos e rosas,
verso e prosa – ............”.)

Eu vi os céus se abrirem no estio,
e o destino dos rios;
vivi o tempo do terno rocio,
e a abelha zumbiu
sobre a flor que se abriu
e a criança sorriu.

Eu vi...








Daniel Azulay





Eu vim ao mundo
nascido do pincel mágico
de Daniel Azulay,
autorrevelação.
Colori meu mundo
com meus trinta e seis lápis
Johann Faber Multicolor,
aos seis.
Heliotrópios e berilos
em profusão –
tons de um recanto interno
que o tornam eterno.

O Sol e a Lua
sempre do mesmo tamanho aparente,
em cada desenho.
O que realmente importa da vida
sempre se sobressai,
que nem Daniel Azulay.

Tudo que se sobressai,
que nem Daniel Azulay.

Que nem Daniel Azulay.
Que nem Daniel Azulay.








Lago azul*





Triste y preocupado estoy,
tan solo cuando me voy
alejándome de mi amor
en lago azul.

Trabajando sin descansar,
cuando pienso lo qué es amar,
esperando mi amor escuchar
en lago azul.

Un día llegaré otra vez a ver
mi lago azul.
Con cariño ver a quien amo yo
en mi lago azul.
Ver las lanchas como mariposas,
otra vez al despertar.
Cuando sale el sol,
mi corazón quiere cantar.

Voy a ver mi amor otra vez.
Yo solo nunca seré.
Tan contento yo estaré
en lago azul.

Un día llegaré otra vez a ver
mi lago azul.
Con cariño ver a quien amo yo
en mi lago azul.
Mi amorcito a mi lado estás.
Luna de plata, agua de cristal.
Yo podré olvidar
el cruel dolor que me hace llorar.

Y contento estaré,
como en um sueño,
en mi lago azul.








* Original de Roy Orbison, sob o título “Blue bayou”. Autores: Roy Orbison / Joe Melson
Adaptação em espanhol por Gilbert RonstadtTiberius L. S. Lobo.

Art by: Kathy Schumacher