quinta-feira, 15 de julho de 2021

A dança dos prismas




Inquieto, inquietos 
assim se aquietam
aves e insetos.

Dançam, cantam
as partículas ondulatórias
ainda não captadas
pelas pequenas consciências.
 
Vagam, vazam
odres e gentes às ruas
inundando-se de desejos
insatisfazíveis
por seus próprios conceitos.

Ruma a um ponto morto imaterial
a sagrada espiral pulsional
fundidora de todos os conceitos
de trajeto e chegada.

Suspensamente animado,
motocontinuamente
o amor se redefine
na imensidão branca
do Universo reverso.








domingo, 11 de julho de 2021

Die Nibelungen




Orientem-me os planetas
em seus trajetos laceados;
conduzam-me as corujas
por entre o baixa-mar neblinoso;
valham-me as novas armas e elmos
que nunca antes imaginei utilizar
em idos tempos do familiar esplendor
cujo maravilhamento como colateralidade
trazia-me o torpor e a introspecção.

Ao menos uma coisa, aquela
que obtive do Alto o direito
de chamar de minha, luminosidade
que agora aquece os imerecedores,
roubadores do que jamais compreenderiam;
a coisa esplêndida,
o ouro incomum,
a jóia indegradável
moldada em artefato indelével,
esta remanesce em algum lugar
luz sem faroleiro
ou campo sem lavrador,
sem aquele capaz de direcionar
ao mais digno propósito
o alcance do fator criador.

O desdém dos povos
pela lamentação do guerreiro,
pela imolação do profeta,
pelo martírio dos infantes
e pelas dores tão gritantes
dos mudos que nem gritar o podem,
mais uma vez poderá
condenar a Terra
à recorrente treva.

Agarro-me com toda minha alma
e todo meu sangue
à imagem fantasmagórica
da maior beleza objetivada concebível.

Já a coisa em si,
esta se encontra no profundo de cada ser 
porém oculta e velada
e aprisionada por disformes anões
que por geração espontânea
permitimos que se cultivassem
em nossas internas paisagens lendárias.
Pelo mais simples e épico
dos descuidos.

Um canto de lágrimas sem recuo.
Um gemido de dor na coragem.
E no centro da desolação:
o sussurro da desencantada
e lúcida esperança.



(Apêndice:)

Erniks
Diespirssen
Plummedren
Artenblott
Machsblesser
Merschgressen
Aughben








sábado, 10 de julho de 2021

Mini réquiem multirritmado




Saudade cigana sobrevoante
à toa despenca
sem se autoconhecer;
chama esverdeada tremulante,
ferida rasgada
no tecido do prazer.

Feito arte e feito obra,
o morrer declama versos
sem palavras aos adversos
temporais que se desdobram

sobre os povos,
sobre os novos
encarnantes que padecem
pelas luzes
que reduzem
a gotículas benesses.

A bênção de uma vida
compactada em um instante,
relampejo bruxuleante
de galvânica investida

neste oco abismal,
neste surto universal,
jogo cosmológico
de brio meteórico.








quinta-feira, 8 de julho de 2021

Aérum de trênon (máin)




I

Lêima áitka carbânas menínk,
mêikme aimenôn meleáistiki.
Tuns mêle ái si mis,
lacrinâmas laimenínstike.

Míst ailimôw,
meneânsti áime gáwa.
Taimái gapô lapô,
minkântri aiclaimeái.

Têisti ahskátra mah
piriísti maneskáitre malakáo,
ehtremeáh pindêste ah...

Mitrôn merestighái aráicme túnslet
intrôn garaláli,
nangalabóreas laigáima narústa.

Min pararát mêin paralári.
Miriáre léisti. Anakâm...
Unúncgru gahmohôn.

Perezmáh
macáia nága.
Kanáia staga,
eupônu monêst.

Paranagro, perilâmper metsoclétus
des ânzer cáddwen.
Teunúzos...
Tai múnos...

Malêustes, min.
Intra séctus, meleái varnák.

Mininghâm narák!

II

Endórnor, mic káines.
Érnar, mic mismesnárfar.

Mêul núnfs manesvél
eccépnes, pérnes, mínter.

Êul mônon tái mâns ínen.
Merehíngenfar
mersevâime,
auditrômens
erákis akismínem
un...

Men traumeswálium
das búnklens
trums bemm uíp.

Arnídes
caiamân bapaí tráu mínlef.
Cornífres
párpas macpác trauínum.

Eumôl palmôw
mallôw pusvák!

Mindes, mindes,
maia nancromênum;
mínfren, mínfren,
maias cartilênon.

Eunobiswálium
das ponuíras
das tuíras
marcas.

Aubí le nábeas.
Aubí le nábeas.

III

Múnfres ao véum...
Calúnfres maloéum...
Eu cânum malúgens
por eu cânum marákes.

Pouína maracafâni
prôu mureráki
êina paruzínes.

Nuvênas parakaínas
pórven macarine
das trumenadas
paradinínis dau tráunas.

Kirirí maturí
pernostíl miríndus, mír:
eu búip kalamálos pah
iákas matânfras...

Êina môrni!
Êi ka lôrzi!

Qwânga málga lértas
pôwen únven
tremenístes des máutus?

Ôngwis tu nônf matarâma
pra darzéc da gâma.

Ôngwis tu lakáimen
pra dázvir
míntra pawanók
dor vúnus.

Káime Manestái Zaráh!

Aérum!
Aérum!
Aérum!








sexta-feira, 2 de julho de 2021

Paleomamífero




Paleomamífero ímpeto
ondula a cauda, submerso e ágil
por baixo das balsas e palafitas
sobre as quais ensaiamos arduamente
uma civilização.
Quando, por fim, a coisa irrompe
através dos frágeis corpos,
não temos mais nem tempo para pensar
em como e quando teríamos baixado a guarda
e relaxado o controle
para deixar a barbárie invadir de vez
nossos redutos.

Bem... Poucos quiseram
ousar discutir, investigar
ou engendrar um modelo viável de controle.
Ninguém pegou num microfone
ou subiu num palanque
para pregar uma redenção científica
da espécie dominante
e doentiamente multiplicante.

Algum ser sombrio e sorrateiro,
inumano e não biológico
sorri e goza sadicamente
com a perpetuação
de uma dialética sangrenta.

O quê é isto
que carregamos por dentro?
Este disforme embrião
revolvente?
Como definir a coisa cujo rosto
(se é que é um rosto)
nos poria instantaneamente mortos
apenas de encarar?
Seria ela parte
do grande gozador sádico não biológico 
ou uma parte natural
de nossos esquecimentos?

Somos nós o meteoro.
Nosso próprio.
A nova e singular calamidade
capaz de estarrecer
um inteiro sistema planetário.

E... vejam só.
Ninguém estarrecido por aqui.
Acho que fui ridículo de novo...

Dou de ombros
e volto ao meu jardim secreto.
Ao berço das esperanças. 
Aos braços e abraços
dos meus novos mamíferos
tão estimados...
A nova Criação
que decidirá por si própria
quando se revelará ao mundo.








quinta-feira, 1 de julho de 2021

O sopro




Na dimensão dos tempos sobrepostos,
tudo que choramos pode fazer sentido.
Mesmo assim, optamos por não chorar,
na medida do possível.
O direito dos passantes.
Representantes da espécie,
viventes gotículas do céu.
Pelas ruas noturnas da grande cidade,
nadamos e volitamos,
porque simplesmente somos.

Na doçura dos turbilhões, nós.
Nós... e o sopro.

Piscina noturna,
ondulação soturna.
Sorvido o medo sonante,
os insetos marcham ao orifício cruel.
Somente agora,
é tudo espetáculo.
Humanos confiam nos contos feéricos,
que não passam de malogros liberados.
A História feita para ser reproduzida
e repetida.

Temos algo –
um compromisso com a noite longa,
sorrisos gravados em faces alheias.
As lonjuras, as rezas em pensamento,
os sentidos tristes das separações.

Só nós, a aventura não videogravada.
Só nós... e o sopro.








Explosão entre nuvens




Explosão entre nuvens,
a forma menos abstrata
de um desespero sangrento.
Pernas e apêndices insetídeos
sobressaindo das alturas:
seria possível desenhar a sensação?
Cansado, cansado mais do que sempre
estou deste contraste
entre o corpo e o ideal.
Quaisquer ideais conhecidos
de leveza vaporosa, em verso ou em prosa.
 
Um mundo, uma utopia que seja
sem estas visões concretas
de sangue, carne, ossos e cartilagens
(não esqueçamos de mencionar as cartilagens!)
– dores agudas da mais óbvia agudez!
Porque, simplesmente,
anseio pelo escape.
(A sensação me acompanha por toda parte.)
 
Fuga da vermelhidão perseguidora
e das carcaças dilaceradas
do delírio persecutório.
Até em sonhos, até mesmo em macios travesseiros
as visões viscosas, protuberantes, tremulantes
de purulentas carnosidades inevitáveis.
Saúde e doença praticamente indistinguíveis...
 
Urro por ser nuvem, um segundo que seja;
talvez – farei assim o melhor proveito.
Nuvem, névoa, algo ora cinza, ora branco,
ora azulado e voluntariamente dispersável.
 
Mas pode ser ridículo.
Pode ser muito eu mesmo.
Pode ser igualmente
o que não quero ser.
 
Explosão entre nuvens!!!