sábado, 24 de novembro de 2018

Cultive seu oásis*





Fui viajar sem direção,
fazer valer a intuição.
Jamais me perderei
na terra do desprezo,
jamais nos perderemos
em nossa sincronia.

Ontem andei rumo ao horizonte:
fui encontrar alguém que se esconde. (Onde?)
Nessa antiga armadilha
planeja-se a insurreição.
A nossa utopia
é o ar que respiramos.

Eu vejo os pontos cardeais
a as energias naturais
que agora invadem minha mente
num lampejo.
Eu sinto a paz que ressurgiu,
miragem sólida que uniu
em si o campo e a cidade
num oásis.

Quando o dia chegar, eu sei,
iremos nos reencontrar, eu sei
que em você saborearei
a mais intensa sensação.
A fé natural que se perdeu,
a vida real que se esqueceu,
a comemoração de um jubileu
de direcionada paixão.

Eu vejo o tempo abalar
a estrutura milenar
e quem dirá que a justiça
não se faz?
Desengaiole o rouxinol!
A cor do mar mesclado ao sol
é a encontrada eternidade 
o oásis nosso.







*Coautor: Arthur Rimbaud


Art by: Maria Poniatowski

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

O lado raro





Explosões, megatons em aroma jasmim.
Dentro em mim, luz astral em verde-capim.
Ele desce espectral sobre a abóbada
das nações, sutil como a Grande Abóbora.

Mira o lado raro, o lado raro do existir.
Mira o lado raro, o lado raro do existir.

Conheci este ser moldado em prazer,
metamorfo voraz por me fazer crer
que o país inundado ainda verá a cor
da nova canção austral que soube se impor.

Mundo de campos verdes e prédios cinza a desabar.
Revelador vislumbre cumpre o dever ao me transportar.
Mira o lado raro, o lado raro do existir.
Mira o lado raro, aguça o faro para sentir.

Viva este chuveiro! Todas as gotas!
Nosso batismo sempre à mão.
Viva este banheiro que purifica
o lado raro da afeição!

Duto transdimensional.

(Brisado, brisado... o astronauta siderado
sobrevoa a Caatinga e o Cerrado.)

Aprendi, transcrevi esta página
na frequência sonora análoga.
O futuro do amor é tudo que sou.
O E.T. dos Pampas foi quem me ensinou.

Sonhos são virtualhas das tropicálias em dispersão.
Subtropicalmente, desenho a doce subversão.
Mira o raro lado, cruzando a nado este atol.
Visa o raso lago doce-amaro do girassol.

Sente este luzeiro abençoado
que vivifica as células.
Nosso candeeiro do lado raro
– e num disparo, libélulas.

A viagem não tem fim.









domingo, 18 de novembro de 2018

Os reprodutores




Sementes de mim encontram o fim
de um túnel mais fabulosamente adequado
para a transmissão da informação
que garante a ignição do aparelho do Estado.

Mas era um delírio: me esbaldei.
Era só um sonho e quando acordei,
eu tinha casa, filho e mulher que não amei.

Estrelas no céu, dores a granel,
incontáveis cabeças vão rolando no estrado
da masmorra da paz distorcida e sagaz
na arte de me convencer a ser seu aliado.

Era um delírio: me esbaldei.
Era só um sonho e quando acordei,
eu tinha casa, filho e mulher que não amei.
Tinha casa, filho e mulher que não amei.

Teorias vão, teorias vêm
e ainda se diz amém ao trono do Império Galáctico.
Novas gerações, velhos ideais
e você pede mais do entretenimento pragmático.

Mas era só delírio: me esbaldei.
Era só um sonho e quando acordei,
eu tinha casa, filho e mulher que não amei.
Tinha casa, filho e mulher que não amei.
Tinha casa, filho e mulher que não amei.
Tinha casa, filho e mulher que não amei.

(A ideia consegue convencer,
consegue ludibriar,
consegue tirar o que quer de nós
antes mesmo de sabermos
que existimos e respiramos.
E isso é o que sobra
e se arrasta pelo continente:
o contingente da desesperança,
a geração da ignorância,
alimentada pelo lixo virtual,
abortada na latrina da América.)








quarta-feira, 7 de novembro de 2018

A beleza de ser quem você é





Emergir do caos primordial (deus de açúcar e sal).
Se alçar da treva ancestral (DEVA OM).
Ah-ah-ah, movimento ascendente (madrigalcosteira).
Ah-ah-ah, motivante pensamento (da beira).

Terra e mar, o fogo e o vendaval (um conluio lunar),
uma revolução sem igual (VITRIOL)
ah-ah-ah, redemoinhando em você (madrugadores);
ah-ah-ah, espiralante êxtase (fulgores).

Você viu um navio atracar
na selva tropical
do fundo do seu quintal.
Você fez multidões entoarem
desdém aos brasões:
a beleza de ser você (a beleza canta alada sobre a estrada).
Ah-ah-ah, beleza selvagem bem vinda (certeza mais linda)!

Pteranodontes cantarão (hierofantes, não),
cachalotes acasalarão (espermatozodiacaldeirão)
junto ao cais dos amores sem estação (memorial xamânico).
Mais pautas aos cantores (nirvanicantorias)!

Vou levar, ao voar,
manuais de como desbravar
os sinais da glória alheia.
Perfumar este ar,
merecer este amanhecer.
A beleza de ser você (a beleza releva que eu jamais fiz um gol).
Ah-ah-ah, beleza selvagem cintila (leveza-godzilla)!

Alimente o sonho definido e preciso
com féculas de realidade.

Você viu um navio atracar
na selva tropical
do fundo do seu quintal.
Você fez multidões entoarem
desdém aos brasões.
A beleza de ser você (a beleza canta alada sobre a estrada).
Ah-ah-ah, beleza selvagem (silvas).

Ah, a beleza de ser você (aperolado som).
Ah, a beleza de ser (as pérolas)...
Ah, a beleza de ser quem você é (aperolado som).
Ah, beleza que jamais finda (a vinda).