já estarei morto e enterrado,
como algo do passado
que rápido passou, e mesmo gritando
aos sete ventos seu recado,
não foi escutado.
Quando alguém lembrar da utilidade
social de um amigo da eternidade,
você já não estará mais no mundo
e nem nossos restos jazerão juntos.
E então...
Lendas da paixão se queimarão
a cento e cinquenta e um Fahrenheit,
implacável zeitgeist.
Motocicletas rugirão, desfilando
sobre o chão recém pavimentado
sobre o sangue derramado.
Quando fazíamos filas nos circos
e coloríamos de balões os domingos,
bem pouco você me olhava nos olhos
nos raros dias em que esteve sóbrio.
Sinais óbvios de um fim anunciado.
Lovecraft morreu desconhecido;
Kafka, desnutrido;
Alan Poe se perdeu na vida;
Melville morreu na estiva.
E quem sou eu na fila do pão
para ter a pretensão
de ganhar essa atenção?
Alucinações que nos seduziram,
entorpecimentos que nos dormiram,
excitamentos que nos distraíram,
piadas velhas das quais todos riram
e depois as esqueceram.
Quando você ler esta carta,
já estarei morto e enterrado,
sem ninguém ao meu lado.
O tempo passará
e ninguém lembrará deste pobre apaixonado
por um sonho rimado.
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