quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Aquilo que se fala nas canções





Seu controle-remoto
não funciona a meu favor.
Os pneus do seu carro cantam
sua ingenuidade guinchante.
Pensei que eu havia ajeitado a posição dos móveis,
mas foi só você que errou.
Aquele erro corriqueiro do convívio doméstico
lindamente forçado.

Os classificados sorriem amareladamente
e sobre minha cabeça paira
minha singularidade.
Aquilo que se fala nas canções
ressoou de um ouvido ao outro
estremecedoramente.
Num planalto verde e irreal
ideologicamente plantado em nossa imaginação
tão influenciável,
o quê não parecia seguro
por debaixo do deixar-estar
e do deixar-passar?

E então, antes que alguém se desse por conta,
a ficção mostrou-se palpável;
o desespero, tridimensional;
o inusitado, rotina.
O distante passa a ser agradável
e o desagradável sou eu.

A suprema contradição
de cantar a canção do coração.

Aquilo que se comenta no tabloide,
aquilo que se fofoca na cerca,
todos os comentários acerca
começam a ganhar forma tangível.
Todas as coisas,
todas essas enervantes coisas
que afastam você de mim...
e nós de nós mesmos.

Aquilo, sobretudo.
Sobretudo aquilo.








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