segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

O nítido





Debaixo das cobertas,
esperando pelo temporal,
você não sente o deslocamento da superfície,
mas pressente, ao lento transporte,
o emergir das luzes do abismo.
 
O vício dos anjos,
a jovem tristeza sem remissão.
Uma maré cinzenta que se aproxima
para confirmar que sua solicitada solidão inspiradora
não fora concedida,
mais uma vez.
 
O toque dos seres em sonhos é frio.
O calor tão longamente ansiado e cruelmente negado
– uma urgên
cia que nos foge
por mero capricho já tornado tradicional.
 
A consciência e a atenção se transportam
(portal de cristal).
Novo derretimento das estátuas de sal.
Mas insípida é minha expressão,
esperando pelo temporal.
 
Viajamos em trilhas vaporosas;
viajamos, viajamos ao largo da prudência.
Com desprendimento insano,
viajamos na música
da fragilidade do corpo humano.

Você acoplado ao cenário onírico:
oscilante delimitação do amor.
Forma mais claramente detectável ao meu lado:
tudo lhe darei;
tudo, tudo de meu mundo
tão logo o seu contorno
esteja claro e nítido diante de mim.
 
Faixas de sombra e luz
transluzem os corpos já conhecidos.
Ângulo expositivo.
Estas formas, expandidas são mais belas
que o brado das hordas
além das suas janelas.
 
Tanto migramos de consciência em consciência.
Como não nos perderíamos?
Ó meu único referencial...
 
Ouço sua risada através da bruma,
tento alcançá-lo,
mas sei que em breve despertarei.
despertarei.
despertarei.







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