Nosso diálogo é mais franco do que
consigo suportar. Concordamos em algo, eu sei, mas mera concordância nunca foi
suficiente. Pelo visto você é um ótimo profissional – aí é que está toda a tragédia:
Deus
sabe que tentei ser
normal, em visões cristalizadas fluindo através das partituras amassadas, notas
musicais dançando loucas no ar como singulares símbolos fálicos, yones e lingas
tratantes e versos horripilantemente sólidos de funérea osmose
afrodisíaca envolvendo-nos em paralelismos comportamentais (e
comportamentalistas) entre lapsos verbais comprometedores, entre salas e
corredores, entre os loucos para fugir das horas e dos minutos – ameaças
diminutas –; crises de inspiração psicótica autotrófica e o escambau que... Tá me ouvindo?
Minha testa dói... e a paranoia dobra
mais uma esquina em busca de sua vítima. Sei o que acontece em dias assim,
ninguém pode me enganar... Não há novidades para quem já se considera mais
velho que o universo... e tão inútil quanto. Nunca poderemos descrever o que
está além das palavras e das representações dos pseudoartistas que levamos para
a cama em espírito todas as madrugadas sem maiores cerimônias. Sim, sabemos
tudo e muito pouco; sabemos até demais das teorias assassinas que nos
envaideceram sem o prometido prestígio; aprendemos tudo sobre psicologia e
esquecemos de nós mesmos... Entre os loucos para curar a loucura falamos de
todos os nossos traumas e nada se resolve...
Mas já descobri a solução. Acho que
sim, deve ser, talvez – farei com que
seja a solução:
Serei outra pessoa. Sou outra pessoa. Andando em círculos
num cubículo parmenídico de espaço e tempo... Outra pessoa... recomeçando do
zero... num filtro de rugas... que se move e descansa sem nunca se conhecer...
(Ruídos
de dentes rangendo)
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