Se o seu sertanejo é um caubói Marlboro™,
se o seu gaúcho é um latifundiário gordo,
se o seu patriotismo é uma camiseta
CBF,
se a sua indignação nunca atinge os chefes
do esquema todo, mas apenas os rotos,
remendados e fáceis de linchar,
você é brasileiro demais, brasileiro
demais
e humano de menos.
Brasileiro demais, brasileiro demais
e humano de menos.
Pois nas estradas onde seus pneus
cantam,
aos litorais que as placas apontam,
todos convergem para ver o espetáculo
das maiores banalidades do século
e você está atento, antenado, excitado
pelo gosto compartilhado.
Você é brasileiro demais, brasileiro
demais
e humano de menos.
Brasileiro demais, brasileiro demais
e humano de menos.
Você criou as leis que vão mandar em
mim.
Quê cérebro oculto planejou assim?
(Ele confunde Moraes Moreira com Alceu
Valença,
Bruna Lombardi com Maitê Proença
e
calça Nike made in China.
Ele comprou The Wall só pela música do
helicóptero,
canta as novinhas pra provar que é
hétero
e diz que chora só de raiva.
Assim ele é confundível
com a massa sofrível,
diluído na “ola” da arquibancada,
depois depreda um trem por nada,
diz que a mãe dele é tudo
mas joga toda vergonha do mundo
nas costas da coitada.)
Soltando rojão por qualquer coisa,
ludibriando eternamente sua esposa,
ocupando as vagas dos paralíticos,
idolatrando estúpidos políticos,
permanece nos bares até tarde
porque acha que alcoolismo tem seu
charme,
enriquece ainda mais o contrabando
com a justificativa de que ninguém é
santo;
foi você que apoiou a milícia
porque não viu distinção entre ela e a
polícia.
Você só tem olhos para o vermelho e o
azul.
Você quis separar o Sul.
Você é brasileiro demais, brasileiro
demais
e humano de menos.
Brasileiro demais, brasileiro demais
e humano de menos.
Você é brasileiro demais, brasileiro
demais
e humano de menos.
Brasileiro demais, brasileiro demais
e humano de menos.
Você criou as leis que vão mandar em
mim.
Quê cérebro oculto planejou assim?