quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A árvore





Eu sou a árvore
que frutifica na hora certa.
O horto já contido
em um grão de terra.
Ninguém além de mim
pode me entender
e eu nem preciso me entender
para ser quem sou.

Eu sou a correnteza
fluindo sobre as algas.
Eu sou a curva da estrada
já abandonada.
Já não me preocupo
se existo ou não.
Somos personagens
de um sonho de Adão.

As cercas que me dividiam estão caídas
e cobertas de musgo.
As uvas que jamais serão colhidas
me perfumam.

Vinde a mim todos que sofrem
pelo que entorpece:
eu tenho as flores e as frutas
que vos adormecem.
O gérmen das novas criações
está a salvo
numa dimensão compacta.

A tempestade sobre o campo.
A dança dos relâmpagos.
Contemplação sem sangue
e sem paixão.

Eu sou o cogumelo
da pós-humanidade.
Passo ao largo
do peso da Eternidade.








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