Eu sou a árvore
que frutifica na hora certa.
O horto já contido
em um grão de terra.
Ninguém além de mim
pode me entender
e eu nem preciso me entender
para ser quem sou.
Eu sou a correnteza
fluindo sobre as algas.
Eu sou a curva da estrada
já abandonada.
Já não me preocupo
se existo ou não.
Somos personagens
de um sonho de Adão.
As cercas que me dividiam estão
caídas
e cobertas de musgo.
As uvas que jamais serão
colhidas
me perfumam.
Vinde a mim todos que sofrem
pelo que entorpece:
eu tenho as flores e as frutas
que vos adormecem.
O gérmen das novas criações
está a salvo
numa dimensão compacta.A tempestade sobre o campo.
A dança dos relâmpagos.
Contemplação sem sangue
e sem paixão.
Eu sou o cogumelo
da pós-humanidade.
Passo ao largo
do peso da Eternidade.
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