Neste que é o meu momento mais
solitário,
homenageio o meu amigo
imaginário.
Com quem mais preciso conversar
agora.
Os olhos que quero contemplar
nesta hora.
Se eu falar de amor, ele sabe os
3 tipos;
se eu mencionar um autor, ele
conhece o livro.
E conhece também as mesmas
lendas e mitos,
até os que finjo que acredito.
E caminhamos nas mesmas
alamedas,
admitimos ter os mesmos medos...
Eu sei que alguém sempre me ouve.
Alguém me ouve, perto ou longe.
Ele fala de ufologia, de
parapsicologia;
até dos mistérios absurdos da
criptozoologia.
Ele também consegue alternar na
playlist
Ramones e Pink Floyd, e vai
de Billie Jean a Paranoid.
Nossos silêncios são oculta
telepatia,
nossas visões preenchem os
vazios...
Eu sei que alguém sempre me ouve.
Perto ou longe, alguém me ouve.
Ele se joga no sofá de pés para
o ar,
compartilha a pipoca e os
Cheetos™,
conhece todos os filmes antigos,
os filósofos esquisitos,
e as HQs de Alan Moore e os mangás
que ninguém entendeu,
só ele e eu.
Aquele que eu já conhecia desde
bem pequeno,
e à mil por hora no gira-gira,
mantinha-se sereno;
e em minha caxumba, me trouxe o
vinil
do Juninho Bill, e comigo ouviu.
Um dia este diamante gigante
se espatifará e se fragmentará
em milhões de rostos felizes,
a longa espera de uma vida.
Mas, por enquanto,
eu sei que alguém me ouve.
Alguém que me ouve
neste exato instante.
...e não gostamos de
super-heróis,
a menos que sejam
nós.