quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Congele a imagem por tempo indeterminado




Escuto, lá fora,
na rua em frente à janela do meu quarto,
um som guinchante
acompanhado de um arfante.
Talvez sutil para outros,
mas não para mim.
Podia ser um andarilho puxando uma carroça,
mesmo a esta hora da noite.
Podia ser outra coisa.
Mas não quero me mover sequer para verificar.
Espero o findar dos ruídos
e talvez dos mistérios noturnos todos.
 
Onde estaria ele agora?
 
Vagando, fugindo, cantando.
E sempre escapando do nosso alcance.
Sempre muito adiante ou muito atrás.
Se escondendo.
 
Congele agora a imagem por tempo indeterminado.
Observe atentamente o contorno paralisado.
Uma ilusão de controle do tempo
e, até mesmo, do que o cantor fará
(dentre o que já foi feito).
A música não importa agora
– o silêncio é até substancial.
Aliás, o mais substancial:
uma revelação.
 
Onde estaria ele agora?
Não sabemos sequer onde estamos.
Tudo foge ao nosso redor,
como paisagens da janela de um veículo.
Cruzando a noite,
se aprofundando na escuridão engolidora.
 
Vagando, fugindo, cantando.
 
E...








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