sexta-feira, 2 de julho de 2021

Paleomamífero




Paleomamífero ímpeto
ondula a cauda, submerso e ágil
por baixo das balsas e palafitas
sobre as quais ensaiamos arduamente
uma civilização.
Quando, por fim, a coisa irrompe
através dos frágeis corpos,
não temos mais nem tempo para pensar
em como e quando teríamos baixado a guarda
e relaxado o controle
para deixar a barbárie invadir de vez
nossos redutos.

Bem... Poucos quiseram
ousar discutir, investigar
ou engendrar um modelo viável de controle.
Ninguém pegou num microfone
ou subiu num palanque
para pregar uma redenção científica
da espécie dominante
e doentiamente multiplicante.

Algum ser sombrio e sorrateiro,
inumano e não biológico
sorri e goza sadicamente
com a perpetuação
de uma dialética sangrenta.

O quê é isto
que carregamos por dentro?
Este disforme embrião
revolvente?
Como definir a coisa cujo rosto
(se é que é um rosto)
nos poria instantaneamente mortos
apenas de encarar?
Seria ela parte
do grande gozador sádico não biológico 
ou uma parte natural
de nossos esquecimentos?

Somos nós o meteoro.
Nosso próprio.
A nova e singular calamidade
capaz de estarrecer
um inteiro sistema planetário.

E... vejam só.
Ninguém estarrecido por aqui.
Acho que fui ridículo de novo...

Dou de ombros
e volto ao meu jardim secreto.
Ao berço das esperanças. 
Aos braços e abraços
dos meus novos mamíferos
tão estimados...
A nova Criação
que decidirá por si própria
quando se revelará ao mundo.








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