domingo, 7 de janeiro de 2018

Orvalho





“É pra fazer doer.
Se não fosse, não chegaria até você
essa voz vinda do vulcão
da desolação perpétua.”
– Foi o que me falou a canção
que o tempo entoou como um aviso
da desertificação do Paraíso.

É sempre assim.
Trânsitos astrais
que frustrarão
nossos ideais.
Sedução de um fugaz brilho.
Aves voarão,
ondas quebrarão,
manhãs secarão
o orvalho.

Porquanto, do ébrio torpor
do romance advém os destroços,
foi então que vi seus ossos
virarem pó, meu grande amor.
E a lembrança dos nossos beijos
foi apagada da memória do Universo.
Nevoeiro disperso.

É sempre assim
o que seduz mais.
Nossas auroras
sempre boreais.
Fascinante e fugaz brilho.
Aves voarão,
ondas quebrarão,
manhãs secarão
o orvalho.

Existiria um atalho,
compensações de um devir.
Sentir e reconhecer
sua voz nos ventos,
seu olhar nos astros,
seus cabelos nos campos,
seus contornos nas dunas
– a mais perfeita miragem,
caso sobre alguma paisagem
num mundo cultivado
por quem se apega em demasiado
ao azul do céu
que também passará.

Aves despencando,
ondas secando
tal e qual orvalho.








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