sábado, 24 de abril de 2021

A apoteose do Homem Penetrável





Diante de nossos olhos,
o belo rascunho de uma visão futura
que nem mesmo o antigo poeta
havia conseguido enxergar face a face
como um todo.
 
Ele se aproxima.
O Homem Penetrável,
a glória inviolável que nos redimirá.
 
Sente-se o eco antecipado de sua voz,
seu sussurro e gemido tão característicos,
sua aura de cores.
Talvez o filme das suas dores e prazeres,
seus conceitos nobres de justiça.
 
Desentrelaçamento de cercas farpadas,
desmantelamento de arsenais:
os sinais de sua chegada.
Já os vemos e sabemos
o quê dele herdaremos.
 
A penetrabilidade conferiu-lhe
toda força e sabedoria
para compreender o mecanismo operante
no âmago das situações e relações,
algo que seus extintos líderes
jamais vislumbraram.
 
O ser realmente superior
e autossuperador agora nasce
dos escombros das metrópoles
e da aridez das campinas devastadas;
a acidez dos mares revoltos
pelos mísseis e dejetos
deixados pelo velho e velhusco
homem.
 
As flores mais altas e altivas
que nas canções.
Uma alegria mais desafiadora
que os ódios de todas as revoltas
históricas.
O rugido melodioso
paralisador de gigantes
e de mitos ambulantes.
 
E, quem, sabe,
no menor dos casos,
a salvação da própria honra
de seu gênero.
 
Isso porque o sonhado artífice de mundos
se fez artífice de seu novo nascimento,
moldador de sua nova face e fase
sem subjugação à sanha de subjugar
que foi-lhe conferida por sua ascendência.
Uma heroica recusa
que limparia um planeta inteiro
da peste cinzenta milenarmente emanada
daquelas criaturas impenetráveis
que ditaram todas as normas apequenadoras
de gêneros e características particulares.
 
A abertura na alma
que é fruto, flor e semente;
o espaço de acolhimento
que é dom e presente;
a doçura na força e a força na doçura
que se misturam na poção criogênica
da qual emergirão
as gerações de novos amantes,
amigos, irmãos e colaboradores
na seara da transparente compreensão mútua
tão necessária
ao fenômeno humano.
 
Quem dará ouvidos à profecia?
Quantos desejarão concretizá-la?
Quantos se farão profetas e heróis
e justiceiros da bondade renovada?
Sabida será, porventura,
a hora certa de despir-se,
livrar-se das paredes inúteis,
deixar de lado todas as armaduras variadas,
até mesmo as invisíveis?
Ousaria-se?
 
Ó tu, Homem Penetrável,
nosso futuro presente,
a ti louvamos!
Agracia-nos com a delícia dadivosa
de repousar em tuas entranhas,
ir fundo e mais fundo em teus universos interiores,
deslizar rumo ao já familiar desconhecido
que nos aguardará sem objeções ou obstruções;
e que em ti contemplemos
a luminosidade da apoteose
que jamais seria verdadeiramente tua
caso não pudesse ser tão verdadeiramente
de nós todos!








Nenhum comentário:

Postar um comentário