sábado, 10 de abril de 2021

Colapso quântico multidimensional




Qualquer coisa pode acontecer.
 
Os pingos na pia
não serão estancados.
O cometa antes invisível
ameaça invadir nossas janelas.
Lacraias assassinas
ao longo das paredes internas
e o externo tremulando
às nossas vistas.
Talvez dentro dos ouvidos
a premonição do desabamento
das pedras de gelo
nunca profetizadas.
 
Qualquer coisa.
 
Coisas com dentes caninos perfurantes
e tentáculos e gosmas
e olhares repelentes
não repelíveis.
Todos os mitos e fantasias e superstições
agora sólidos e invasivos,
sem a menor sutileza.
 
Me recuso a sair deste roupeiro.
Simplesmente não posso.
As comportas das possibilidades
se escancararam tenebrosamente
e não creio
que alguém estivesse preparado.
Ninguém poderia.
O baque, o estouro, a bomba
da devastação giratória
que se apresenta com a roupagem do absurdo,
e o próprio absurdo tomando o lugar
do antes tão assegurado
e estabelecido.
 
Os guinchos dos morcegos gigantes
podem enlouquecer
quem não consegue bem cobrir os ouvidos.
Justo num dia como hoje...
Quando nem se sabe
que dia é, e nem se sabe
qualquer data.
 
Ninguém vai me tirar daqui.
Não vou deixar.
Me entrego à atividade solitária
de tentar cogitar
o que acontece lá fora.
Sobretudo porque tudo que pode acontecer
acontece, e o que não podia
agora pode
e mata
e estraçalha
e esmigalha
e pulveriza
e esparge
o que nos resta de esperança
terráquea.
 
E tudo se perde
no mesmo vórtice.
Um colapso quântico multidimensional
que desfaz mundos
e faz o tudo e o nada
se equivalerem.
 
Qualquer coisa,
a qualquer momento.
Não há mais regras.
Não há planeta que se sustente
ante o deslocamento violento
da própria base das leis cosmológicas.
 
Haveria alguma lei
para os interiores dos roupeiros?
 
Droga.
Não há mais espaço.
Não há mais dentro e fora
que eu possa discernir.
Há somente na minha mente
uma torneira que pinga
e uma falta de coragem
para ir lá fazê-la estancar.








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