Pedras guardadas reclamam a distância e a separação – pedrarias montanhosas choram a rústica e bruta extração.
Toda dor
que uma criança consegue conter em seus pequenos olhos... suplantada
pela dor que não consegue conter... O derramamento incontido de
soluços, silenciado nas sombras das celas domésticas... Cruzes,
lápides e marcos de cemitérios e depósitos de cadáveres de todo
um universo agora tremem com cada ligeiro pensamento de um retorno...
à infâmia da dependência.
Direta
ou mediada.
Bruta ou
sublimada...
Somos o
pilar e o pilão. O monolito e a lajota. Distância, separação
corrosiva retratada nas entranhas, nas paredes intumescidas da alma.
Calma violentada, saídas utópicas para o irremediável. A máxima
dor teórica posta em prática e aplaudida. A seriedade do discurso
mais hipnótico, condicionando-nos à dilaceração – não podemos
negar que nos corrompemos. Permanecemos na mágoa e no pranto
saboroso; vertemos irrisórias fontes de esperança requentada. E a
reencarnação combatida por parapsicólogos espalhafatosos,
histriônicos, ensandecidos de razão e vontade de ver o sangue
jorrar.
“As
pedras nunca mais serão jogadas”, dizem elas. As águas. Não
geradas. Uma pulsão pusilânime que aponta para um medo ancestral, hereditário,
coletivo nos arquivos da alma. Culpados por isso? Jorrando e jorrados
desde sempre e para sempre; catando vida pelas trilhas
escurecidas/anoitecidas que conduzem à viela dos minérios.
Cemitérios.
Carbonizamos desafetos despidos. Crentes sem um paraíso: pura dor,
puro horror, horror puro inexprimível em palavras amanhecidas e
dormidas. Cadavérica forma incerta de realçadas feições – são
elas; nós bem podemos reconhecê-las; são as vidas reclamadas,
exigidas e já destituídas de som, cor, forma e qualquer expressão minimamente familiar.
Não
mais correrão as crianças. Lindos contos condicionantes às camas
atávicas. O fausto em ornamentos repulsivos de indecoros previstos. Dureza das decisões ensanguentadas dos desamantes.
Não,
não podemos crer que somos nós, nem nossas imagens. Críamos em
saltos evolutivos, em liberdades de expressão em tempos de opressão
autóctone. Mas agora é a dor que vem mostrar seu rosto, pupilas
vazadas – olhos arrancados – outras faces que nunca tiveram olhos
– bom para elas. Bom nos últimos tempos, nos últimos dias e
instantes dos aguardantes impacientes do Armagedom vulcânico tantas
vezes citado nas páginas que queimamos nas praças públicas de
nossas ridículas e infantiloides vitórias mentais.
Os
relicários de minutos produzem sonolências abstrativas. Nada é
conforto real. Tudo é fuga descompassada, tudo foge! Porque
guardando sonos/sonhos compactados em valises quadridimensionais, bolsas
sinistras, sacolas e sacos musguentos – meu Deus! –, corremos em
nossa fuga, em nossa dor subitamente acometida, tangidos pela explosiva lembrança do distanciamento jamais esquecido. Tudo em nós, tudo
gravado em nosso peito e abdômen, sim, inexoravelmente fazendo-se
chamariz do remoído remorso inexplicável, inextrincável – ável.
Luminosa expectativa de uma queda interminável.
Nada
esquecido, nada banido. As almas e os órgãos internos gemem porque
não têm mais força para berrar de desespero. Os externos
gemebundam ao retê-lo sem o saber. Abandonamos o Saber.
São as
dores do querer. Os amores e o sofrer – sofremos por rimas! E
continuamos.
Ah,
livrem-me da tarefa de descrever... a fração do colapso... a ação
do tempo sobre a pele... luzindo brontossáuricas tormentas arrasadoras de plátanos acetinados, lisos alisamentos consoladores... Por que
voltamos aos terrores? Por que vagamos em nossas estradas e
estertores? Paraísos impossíveis... Por que nos enganaram tanto
desde a infância?
As
pedras! Choram. Desde sempre em nós. Voltem, ah! Voltem à sua
justaposição inercial identitária; voltem sem alarde e sem medida
de tempo-regresso, valentes! Ilusoriamente longe, longe em nós, é lá que
guardamos os sonhos e os medos, os mais adoráveis segredos que nos
sustentam todos os dias... dias de fantasmais utopias. Valentes,
valentes nos críamos. Nunca mais...
Nunca
mais. Nunca poderemos reter em nós o minério e tampouco a
concretização do mistério. Nossos arquivos de ideários – pranteiam e
pranteiam como nossas almas desmembradas.
Nosso
riso: caudaloso em esfera medianímica. Perdemos o ciso. A dor deixa
seu rastro, e seguimos o prazer sobrevivente.
Sigam-me,
sigam-me sem receio algum. Confiem: nada prometo – o mundo já deu
sua palavra. Será nossa, portanto, a beleza herdada... se apenas
pudermos salvar seu sabor vivo e o veículo de sua livre
manifestação!
Salve,
salve, salve...
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