INTRODUÇÃO.
A pedagogia da desinformação.
Falaremos
sobre questões urgentes. Questões referentes a possibilidades e
desperdícios – sobretudo o desperdício de informação.
Abordaremos sobretudo o contraste existente entre a informação
inútil e a informação útil, segundo o critério de prioridade com
relação às aplicações sociais do conhecimento.
Será
revelada a existência de uma crise da atualidade, crise que
constitui um paradoxo de grandes implicâncias no âmbito da
sociedade. Serão apresentadas, porém, propostas de soluções
viáveis para cada problema discutido.
Analisaremos
os meios pelos quais a educação chega até o indivíduo – as
“vias” da educação. Tem-se por hábito considerar a família
como sendo o ponto inicial do processo pedagógico, e a escola como o
último. Há, porém, varias questões controversas a se considerar
com relação a este quadro simplista e ilusoriamente confortador.
Como
não poderíamos esgotar as possibilidades de abordagem, propomos que
seja desenvolvido um posterior debate, de sérias implicâncias.
Sérias porque envolvem questões como subjugação humana,
marginalização, controle social e, sobretudo, manipulação de
informação.
Visto
que as relações existentes entrem a educação pública e o
controle da informação são assuntos que urgem sejam revistos, por
muito nos dizerem respeito, exortamos o leitor a ter uma participação
ativa no debate, seja pelo contato direto com este autor ou com seu
envolvimento pessoal na problemática – em complacência, denúncia
ou renúncia.
Revendo
o papel da família. Os maus fundamentos da tradição.
Evidenciaremos
agora quais os males de se separar rigidamente certas áreas da
educação, quanto à função, como sendo algumas de privilégio
exclusivo da família e outras da escola.
Pergunta-se:
qual garantia podemos ter de que a família irá desempenhar bem as
funções tradicionalmente reservadas para ela? Seria a família tão
bem organizada como uma empresa ou uma instituição, cujo
funcionamento decorre de princípios metodológicos? Não: sua
“pedagogia” não tem garantia científica alguma (muito
necessária em certas questões de psicologia) e, mesmo quando tal
“pedagogia” produz acertos, estes dificilmente são decorrentes
de um planejamento isento de ideias comuns, que sejam o substrato do
aspecto mais negativo do relativismo cultural.
Assim,
um planejamento especial para os núcleos familiares deveria ser uma
iniciativa do Estado, a partir de teorias desenvolvidas sobre
fundamentos psicológicos, ao contrário do que sempre ocorre: uma
organização quase fortuita de fatores sociais. (Para todos os fins,
considera-se aqui “quase fortuito” um sistema familiar cuja
“base” se mostre desprovida de ciência.)
Ora,
seria temerário implantar um projeto nesse sentido precipitadamente,
tendo-se em vista a notória falta de consenso entre as facções
“produtoras de pensamento” que poderiam elaborar métodos
arbitrários e precipitadas de “controle” social. Tudo deveria
ser dirigido com criterioso estudo, e este ainda está sendo
efetuado.
Como
o que se discute aqui é a educação, outro problema surge então:
trata-se da dificuldade (ou plausibilidade, podemos discutir) de se
implantar um mecanismo de “controle de educação” a nível
familiar. Para o sistema escolar, ao menos, há um controle, efetuado
pelos órgãos públicos – Ministérios e Secretarias especiais.
Mais uma vez insistimos: como garantir que a instrução dada pelos
pais – vindos de tantas origens, de tão variadas crenças e
opiniões – preencha os requisitos de uma objetiva cartilha de
educação doméstica, ainda mais sendo difícil de implantar por
mostrar uma diretriz universalizante?
Pensemos,
portanto, numa proposta conciliatória. Ou, ao menos, um fator de
transição, a título de conciliação.
Diante
dos fatores apresentados, e retomando o pensamento inicial, podemos
afirmar que a maior garantia de cientificidade da educação a
nível familiar consiste em incluir este tipo de educação também
no currículo do ensino público. É, realmente, um meio bastante
eficaz de se aplicar tanto as informações mais básicas sobre
planejamento familiar quanto de efetuar o necessário controle do
método e dos resultados; eficaz também quanto aos fatores éticos,
por preservar o aspecto positivo da variedade cultural.
“Noções
mais básicas de planejamento familiar?” surpreender-se-ão
alguns, alegando que a secular tradição herdada de suas avós seja
um paradigma inquebrantável. Mas, convenhamos: por um lado, “fazer
filhos” é fácil demais, enquanto que o mero instinto é
insuficiente para conduzir um lar num mundo sadicamente tecnocrático
como o dos tempos atuais; e, ainda, com relação ao alegado valor da
tradição, pode-se dizer que esta deve submeter-se a um
conjunto de teses atualizadas, pesquisadas por uma cúpula científica
reconhecidamente especializada. A própria ideia de tradição,
por excelência fixista e não-discutível, já exclui de pronto o
fator mudança – o “motor” da evolução. Trata-se de um código
herdado, uma espécie de DNA inexorável, pronto a lutar contra
qualquer mutação que venha a se imiscuir em sua estrutura.
Faz-se
necessário, portanto, uma engenharia cultural.
Inevitavelmente,
surgem mudanças no âmbito social; urge, agora, que se considere se
a maneira mais profícua de encará-las seria antepondo a estas as
barreiras culturais produzidas pela tradição, ou então enviando à
luta (ou à concórdia) conceitos e atitudes também mutantes
(atualização mútua do quadro problema-solução), ou, ainda,
aproveitar-se simultaneamente, com o devido critério, dos melhores
aspectos da tradição e também do lado mais positivo da mudança
dos paradigmas sociais.
Parece
evidente a superioridade da última alternativa.
Ocorre
que o problema é ainda maior: há famílias que nem mesmo se mostram
dignas de tal alcunha, resultantes de resquícios de uniões
fortuitas e descompromissadas, que acarretam uma desintegração da
personalidade dos indivíduos em formação e, por outro lado, também
há exemplos de lares que conseguem se manter satisfatoriamente sem
se valer dos tradicionais modelos patriarcais, devido a uma
organização doméstica muito particular e eficaz, seguindo uma
série de regras de sobrevivência que bem poderiam ser estudadas e
catalogadas com mais profundidade, para uma providencial aplicação
social.
É
por causa disto que hoje em dia torna-se mais conveniente falar de
“núcleos domésticos”.
De
tudo que foi evidenciado, podemos concluir que a família não pode
ter, por direito, a primazia no quadro de fatores que levam à
educação de um indivíduo, enquanto mostrar-se assim tão
aleatória, tão faccionária, tão condicionada pelo meio ao ponto
de não sustentar uma metodologia pedagógica com o conhecimento da
causa.
É
justamente por causa disto que defendemos a ideia de que o ensino
público deveria ensinar ao indivíduo TUDO que outrora cabia à
família – quer esta ensine ou não. Não se tira desta, de modo
algum, seu papel na educação, mas, por via das dúvidas,
faz-se com que a escola seja de fato um Lar para o indivíduo em
formação, uma vez que não haja meios absolutos de garantir que os
assim chamados “lares” o sejam de fato.
Posteriormente,
quando os órgãos do Estado já tiverem elaborado um amplo projeto
de planejamento familiar público, este poderia ser implantado
conjuntamente a uma campanha de conscientização popular – coisa
que, infelizmente, nunca costuma ser bem realizada, sobretudo no
Brasil, seja por simples má-vontade ou por interesses excusos...
Entretanto,
ainda fica no ar a questão: não haveria um meio ainda mais
eficiente de educação pública, fora do tradicional quadro
lar-escola? Os tempos atuais não indicariam qual o caminho de
possíveis novos recursos cabíveis para isso? É o que abordaremos
na sequência.
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