quinta-feira, 4 de julho de 2013

Educação e desinformação (Introdução / Parte 1 – O papel da família)



INTRODUÇÃO. A pedagogia da desinformação.



Falaremos sobre questões urgentes. Questões referentes a possibilidades e desperdícios – sobretudo o desperdício de informação. Abordaremos sobretudo o contraste existente entre a informação inútil e a informação útil, segundo o critério de prioridade com relação às aplicações sociais do conhecimento.

Será revelada a existência de uma crise da atualidade, crise que constitui um paradoxo de grandes implicâncias no âmbito da sociedade. Serão apresentadas, porém, propostas de soluções viáveis para cada problema discutido.

Analisaremos os meios pelos quais a educação chega até o indivíduo – as “vias” da educação. Tem-se por hábito considerar a família como sendo o ponto inicial do processo pedagógico, e a escola como o último. Há, porém, varias questões controversas a se considerar com relação a este quadro simplista e ilusoriamente confortador.

Como não poderíamos esgotar as possibilidades de abordagem, propomos que seja desenvolvido um posterior debate, de sérias implicâncias. Sérias porque envolvem questões como subjugação humana, marginalização, controle social e, sobretudo, manipulação de informação.

Visto que as relações existentes entrem a educação pública e o controle da informação são assuntos que urgem sejam revistos, por muito nos dizerem respeito, exortamos o leitor a ter uma participação ativa no debate, seja pelo contato direto com este autor ou com seu envolvimento pessoal na problemática – em complacência, denúncia ou renúncia.



Revendo o papel da família. Os maus fundamentos da tradição.




Evidenciaremos agora quais os males de se separar rigidamente certas áreas da educação, quanto à função, como sendo algumas de privilégio exclusivo da família e outras da escola.

Pergunta-se: qual garantia podemos ter de que a família irá desempenhar bem as funções tradicionalmente reservadas para ela? Seria a família tão bem organizada como uma empresa ou uma instituição, cujo funcionamento decorre de princípios metodológicos? Não: sua “pedagogia” não tem garantia científica alguma (muito necessária em certas questões de psicologia) e, mesmo quando tal “pedagogia” produz acertos, estes dificilmente são decorrentes de um planejamento isento de ideias comuns, que sejam o substrato do aspecto mais negativo do relativismo cultural.

Assim, um planejamento especial para os núcleos familiares deveria ser uma iniciativa do Estado, a partir de teorias desenvolvidas sobre fundamentos psicológicos, ao contrário do que sempre ocorre: uma organização quase fortuita de fatores sociais. (Para todos os fins, considera-se aqui “quase fortuito” um sistema familiar cuja “base” se mostre desprovida de ciência.)

Ora, seria temerário implantar um projeto nesse sentido precipitadamente, tendo-se em vista a notória falta de consenso entre as facções “produtoras de pensamento” que poderiam elaborar métodos arbitrários e precipitadas de “controle” social. Tudo deveria ser dirigido com criterioso estudo, e este ainda está sendo efetuado.

Como o que se discute aqui é a educação, outro problema surge então: trata-se da dificuldade (ou plausibilidade, podemos discutir) de se implantar um mecanismo de “controle de educação” a nível familiar. Para o sistema escolar, ao menos, há um controle, efetuado pelos órgãos públicos – Ministérios e Secretarias especiais. Mais uma vez insistimos: como garantir que a instrução dada pelos pais – vindos de tantas origens, de tão variadas crenças e opiniões – preencha os requisitos de uma objetiva cartilha de educação doméstica, ainda mais sendo difícil de implantar por mostrar uma diretriz universalizante?

Pensemos, portanto, numa proposta conciliatória. Ou, ao menos, um fator de transição, a título de conciliação.

Diante dos fatores apresentados, e retomando o pensamento inicial, podemos afirmar que a maior garantia de cientificidade da educação a nível familiar consiste em incluir este tipo de educação também no currículo do ensino público. É, realmente, um meio bastante eficaz de se aplicar tanto as informações mais básicas sobre planejamento familiar quanto de efetuar o necessário controle do método e dos resultados; eficaz também quanto aos fatores éticos, por preservar o aspecto positivo da variedade cultural.

Noções mais básicas de planejamento familiar?” surpreender-se-ão alguns, alegando que a secular tradição herdada de suas avós seja um paradigma inquebrantável. Mas, convenhamos: por um lado, “fazer filhos” é fácil demais, enquanto que o mero instinto é insuficiente para conduzir um lar num mundo sadicamente tecnocrático como o dos tempos atuais; e, ainda, com relação ao alegado valor da tradição, pode-se dizer que esta deve submeter-se a um conjunto de teses atualizadas, pesquisadas por uma cúpula científica reconhecidamente especializada. A própria ideia de tradição, por excelência fixista e não-discutível, já exclui de pronto o fator mudança – o “motor” da evolução. Trata-se de um código herdado, uma espécie de DNA inexorável, pronto a lutar contra qualquer mutação que venha a se imiscuir em sua estrutura.

Faz-se necessário, portanto, uma engenharia cultural.

Inevitavelmente, surgem mudanças no âmbito social; urge, agora, que se considere se a maneira mais profícua de encará-las seria antepondo a estas as barreiras culturais produzidas pela tradição, ou então enviando à luta (ou à concórdia) conceitos e atitudes também mutantes (atualização mútua do quadro problema-solução), ou, ainda, aproveitar-se simultaneamente, com o devido critério, dos melhores aspectos da tradição e também do lado mais positivo da mudança dos paradigmas sociais.

Parece evidente a superioridade da última alternativa.

Ocorre que o problema é ainda maior: há famílias que nem mesmo se mostram dignas de tal alcunha, resultantes de resquícios de uniões fortuitas e descompromissadas, que acarretam uma desintegração da personalidade dos indivíduos em formação e, por outro lado, também há exemplos de lares que conseguem se manter satisfatoriamente sem se valer dos tradicionais modelos patriarcais, devido a uma organização doméstica muito particular e eficaz, seguindo uma série de regras de sobrevivência que bem poderiam ser estudadas e catalogadas com mais profundidade, para uma providencial aplicação social.

É por causa disto que hoje em dia torna-se mais conveniente falar de “núcleos domésticos”.

De tudo que foi evidenciado, podemos concluir que a família não pode ter, por direito, a primazia no quadro de fatores que levam à educação de um indivíduo, enquanto mostrar-se assim tão aleatória, tão faccionária, tão condicionada pelo meio ao ponto de não sustentar uma metodologia pedagógica com o conhecimento da causa.

É justamente por causa disto que defendemos a ideia de que o ensino público deveria ensinar ao indivíduo TUDO que outrora cabia à família – quer esta ensine ou não. Não se tira desta, de modo algum, seu papel na educação, mas, por via das dúvidas, faz-se com que a escola seja de fato um Lar para o indivíduo em formação, uma vez que não haja meios absolutos de garantir que os assim chamados “lares” o sejam de fato.

Posteriormente, quando os órgãos do Estado já tiverem elaborado um amplo projeto de planejamento familiar público, este poderia ser implantado conjuntamente a uma campanha de conscientização popular – coisa que, infelizmente, nunca costuma ser bem realizada, sobretudo no Brasil, seja por simples má-vontade ou por interesses excusos...

Entretanto, ainda fica no ar a questão: não haveria um meio ainda mais eficiente de educação pública, fora do tradicional quadro lar-escola? Os tempos atuais não indicariam qual o caminho de possíveis novos recursos cabíveis para isso? É o que abordaremos na sequência.








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