Conclusões. Soluções possíveis.
Devemos
admitir, não sem uma certa vergonha pela nossa tradicional
passividade ante a coisa pública, que as soluções para problemas
tais como crescimento demográfico desmedido, doenças sexualmente
transmissíveis, desemprego, violência, dominação política e
ideológica se constituem, em termos materiais, mais fáceis de
resolver do que supúnhamos, como este trabalho bem tenta demonstrar.
Qualquer
solução passa pela questão da informação, quando
transformada em conhecimento – um saber útil.
Mas,
por que então se diz que o solucionar é apenas “materialmente”
fácil? Diz-se tão-somente devido às barreiras impostas pelas
facções detentoras de maior poder e informação. E o que indica a
existência de tal empecilho? O indica a própria simplicidade
de implantação deste defendido plano de esclarecimento público em
aspectos familiar, escolar e midiático. Os recursos para isso estão,
por assim dizer, totalmente à disposição das autoridades políticas
e dos grupos empresariais inegavelmente influentes.
Sabe-se
agora o quão “lucrativa” é a pobreza, para a facção
dicotomicamente oposta. Vemos os exemplos; vemos o que costuma
ocorrer em vésperas de eleições: um eleitorado marginalizado a se
arrastar pelo pouco de alento que o candidato lhes oferece, logo
depois agradecidíssimo pela “caridade”.
Vemos
não só uma coação de informação, mas um declarado empecilho à
educação popular – bastando lembrar a dificuldade que é a implantação da Filosofia como disciplina
obrigatória no ensino público no Brasil.
Mas
o pior de tudo consiste na ampla divulgação, por parte do governo e
dos meios de comunicação em geral, de um modelo social imposto como
inevitável, copiado da “lei da selva”: uma sociedade que não
pode se sustentar fora do paradigma da competição,
transferindo até para a dimensão individual o conhecido mote das
relações empresariais. Não se fala em cooperação como
opção de ordem social, como que justificando a afirmativa de
Hobbes: “o homem é o lobo do homem”. E o resultado disso tudo só
poderia ser a marginalização.
Assim,
com toda a certeza, podemos afirmar ser o conhecimento a chave da
verdadeira liberdade – a liberdade à qual visa a ética, e nunca a
“liberdade da raposa no galinheiro”, para citar uma metáfora
socialista.
Como
a resposta para tantas calamidades sociais passa pela educação e
pela informação, segue-se que o estímulo à ignorância e à
alienação constitui a base da miséria material e moral de um povo.
.............................................................
A
título de complemento, coloco aqui uma relação de lembretes úteis,
já divulgados por mim em um panfleto apolítico intitulado “pequenas
dicas para mudar o mundo”:
SOLUÇÕES POSSÍVEIS
Geralmente
estão relacionadas a um processo de crença e descrença.
*
Não acredite que a vitória numa guerra traga paz. A nação que sai
derrotada sempre se impregna de rancores nacionalistas.
*
Não acredite em tudo que é divulgado pela imprensa em geral.
Procure conhecer bem os jornalistas e os ditos formadores de opinião.
É facílimo utilizar os meios de comunicação para ovacionar os
mesquinhos e denegrir os justos. Desconfiar é tão saudável quanto
confiar...
*
Não tome por novas e revolucionárias as concepções de ordem
social já comprovadamente falhas. Procure conhecer a História que a
escola não ensina.
*
Procure conhecer seus direitos – os universais, declarados pela
ONU, e os constitucionais.
*
Não acredite em todas as propagandas, mas divulgue honestamente
aquilo em que você acredita.
*
Não aceite como artigo de fé aquilo que não passar pelo crivo da
razão, e quanto às questões que não dizem respeito à religião
mas mesmo assim são abordadas por ela, não creia em absoluto antes
que se torne consenso na comunidade científica.
*
Acredite que há outras formas de viver socialmente. Sempre há
lugares que combinem com o seu jeito de ser. Sempre há pessoas
parecidas com você. Comunique-se!
*
Não acredite em uma coisa só porque ela é bombástica e grandiosa.
Lembre-se: a verdade às vezes é bem sutil, e pode passar
despercebida pela maioria das pessoas.
*
Não acredite que a competição seja uma garantia de ordem
social. Ao contrário; creia sempre na cooperação. Fracos e
desajustados merecem oportunidades.
*
Creia que você possui grandes talentos e capacidades. É só
descobri-los ou desenvolvê-los plenamente com estudos persistentes.
*
Procure conhecer as ideologias políticas, suas origens e diferenças.
Não adianta se queixar mais tarde!
*
Não creia que o melhor da música e das artes em geral seja
necessariamente aquilo que a mídia divulga: coisas que a rádio não
toca e a TV não mostra, por não fecharem com seus interesses e de
seus patrocinadores.
*
O controle da sociedade pertence àqueles que detém maior
conhecimento. Quanto mais você souber, menos será dominado e
enganado.
*
Não tenha vergonha de ser justo e caridoso, mas também não se
envaideça por isso. Os gestos bons devem ser feitos com
naturalidade.
*
Não creia que amor e amizade sejam coisas diferentes. Mas aprenda a
distinguir os vários tipos de amor.
*
Aprecie tudo o que não faz mal. Esse é o trunfo dos bons otimistas:
só pelo fato de algo não provocar dano a ninguém, já pode ser
admirado. Assim, podemos ampliar nossos gostos e restringir o ódio
apenas contra aquilo que merecer mesmo ser odiado, ou seja, tudo
que puder ser fonte de sofrimento. Resultado: sentimos menos
raiva à toa e nos incomodamos menos por problemas pequenos. Seremos
mais “gostadores” e menos “odiadores” – e tudo isso implica
em saúde física e espiritual.
*
Por fim, não duvide dos seus sentimentos autênticos; não duvide da
fé pura e do amor puro, a despeito de tudo que a assim chamada
civilização fizer para coagi-lo a ser um androide paranoico.
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BIBLIOGRAFIA
- FONSECA, António Manuel. Personalidade, projectos vocacionais e formação pessoal e social. Porto Codex: Porto Editora, 1994.
- GENTILI, Paulo. Pedagogia da exclusão. Crítica ao neoliberalismo em educação. Petrópolis: Vozes, 1995. 308p.
- GHIRALDELLI JR., Paulo. História da Educação. São Paulo: Cortez, 1990. 240p.
- PIMENTA, Selma Garrido. Orientação vocacional e decisão. Estudo crítico da situação no Brasil. São Paulo: Ed. Loyola, 1979. 136p.
São
Leopoldo, junho de 2002
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