domingo, 30 de junho de 2019

Sonho 41 (queda em direção a Marte)




Não parece daquelas fantasias de viagens interplanetárias deliciosamente aventurescas. Não; trata-se de uma espécie de repuxo vertiginoso; ser-se dominado por uma misteriosa força com a qual nem se consegue dialogar. Simplesmente estar caindo quando a morte é certa e iminente. Eis a sensação.

O planeta Marte é gigantesco, real, sólido, material e absoluto em cada pormenor. O globo alaranjado tão nítido parece estar me sugando; sinto uma pressão em meu corpo todo; meu cérebro se sente espremido e meu coração em taquicardia.

Não tenho invólucros, nenhuma espaçonave ou traje; pelo menos que eu perceba. Só não estou congelado, e ainda respirando, porque a força invisível de Marte me mantém assim. Provavelmente estou completamente nu, mas nem consigo enxergar qualquer parte de meu corpo. Marte é a única coisa a ser vista.

“Eu pensei que seria divertido... pensei que seria divertido...” – me remoo, na dor do desmoronamento de todas as inocentes fantasias de ficção científica. “Eu já deveria saber que a realidade é sempre bem diferente. Eu já tinha sido avisado...” – me lamento no brusco apartar de tudo que reconheço como humano e assimilável. O espaço é a própria solidão.

Caio lentamente em direção à mancha branca de uma zona polar.








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