domingo, 30 de junho de 2019

Aquarius






Eles desceram do céu no início da noite,
ninguém sabia se era para o bem ou para o mal.
Como já acontecera em idas eras,
igualmente ninguém sabia qual o propósito daquilo.
Não eram totalmente máquinas,
não eram totalmente carne,
não era absolutamente real
o conceito de realidade de que nos alimentávamos
junto à crosta.

Mas houve uma estranha calma nos mares,
um conforto montanhesco
florestosamente arenítico,
pedregosando pelo espaço aéreo
fogofatuante como a morte deve ser
para as borboletas fazedoras de tufões.

Revira, gira, dissolve
a expectativa lendária;
maltrata, destrata, reergue e dignifica
os fazedores de lendas.
Amontoadas letras nas bibliotecas ruídas
e nosso inteiro passado histórico em microarquivos
de nanocápsulas virais inescrutáveis.

O planeta já não existe mais
no formato familiar aos nossos ancestrais,
mas amamos o som dos tambores
e as gotas das cachoeiras,
porque tudo convive na nostalgia,
o sabor da solene ironia.

Tudo nos é hologramaticamente permitido.
Os filhos do século brincam no pó.

Nossas caravelas
um dia alcançaram terra.
Ninguém sabia
se era para o bem ou para o mal.








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