CASO 1
Seita, jovem japonês de
aproximadamente 13 anos protagonista do anime Túmulo Dos Vagalumes (1988), é
inicialmente bastante idealista e patriótico. Diante das tragédias decorrentes
da Segunda Guerra, sua postura vai mudando aos poucos. Embora na maior parte da
história seja visto vertendo grossas lágrimas, curiosamente na parte final
passa a ficar com semblante frio, como que anestesiado de tudo. Após perder sua
pequena irmã (cuja proteção era a razão da existência dele), que morrera de
subnutrição, parece perder qualquer fé e esperança. Simplesmente deixa-se
morrer por inanição, junto aos mendigos. Sua mente ficou abalada ao ponto de
não ver motivos sequer para aceitar algum pedaço de pão que os transeuntes lhe
oferecem...
CASO 2
Florya, protagonista de Vá E Veja (1985), judeu,
aproximadamente 14 anos e um tanto ingênuo, vive na Bielorrússia em pleno
ataque dos nazistas, e após perder toda a família e contemplar inimagináveis
atos de barbárie, vai aos poucos ficando fisicamente e mentalmente deteriorado,
acometido de envelhecimento precoce (um ótimo trabalho de maquiagem, aliás).
Mantém-se vivo apenas pela utopia de pretender matar Hitler.
CASO 3
O garoto polonês e judeu de O
Pássaro Pintado (2019), aproximadamente 10-11 anos, anônimo (a revelação do seu
nome é um mistério que demorará a ser revelado), vivencia a violência e a
truculência vinda de uma tripla fonte: os nazistas, os estalinistas e (principalmente!)
do seu próprio meio: camponeses extremamente ignorantes e dominados pela
superstição. O resultado é que, após continuadas torturas e visões de horrores
banalizados, o garoto perde totalmente a capacidade de falar. Sua mudez não é
sequer curada no fim da história. É algo sem solução. Isso reflete a
incapacidade de expressar o tamanho do horror.
CASO 4
O libanês Zain, 12 anos, de Cafarnaum (2018), ao
contrário do protagonista de Vá E Veja, tem uma inteligência e sagacidade de
raciocínio fora do comum para uma criança. O que faz com que, diante daquela
quadro de miséria extrema, abuso sexual infantil, tráfico de pessoas e
indiferença de muitos, chegue ao final a uma conclusão de caráter filosófico:
“A Vida é uma grande merda. Eu não deveria ter nascido. Pais com incapacidade
de criar filhos jamais deveriam tê-los.” Assim, decide processar seu pai e sua
mãe, pelo crime de o terem concebido.
O questionamento que fica é: como seria possível manter um suposto juízo racional após vários fatores externos virem a abalar consideravelmente o psicológico da pessoa? Creio que seja um enorme desafio para a Psicologia. Em qualquer caso, só a empatia deve servir como base para nossos julgamentos – se é que devamos julgar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário