sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Quatro protagonistas meninos e suas reações ante o sofrimento




(CONTÉM SPOILERS)


CASO 1
 
Seita, jovem japonês de aproximadamente 13 anos protagonista do anime Túmulo Dos Vagalumes (1988), é inicialmente bastante idealista e patriótico. Diante das tragédias decorrentes da Segunda Guerra, sua postura vai mudando aos poucos. Embora na maior parte da história seja visto vertendo grossas lágrimas, curiosamente na parte final passa a ficar com semblante frio, como que anestesiado de tudo. Após perder sua pequena irmã (cuja proteção era a razão da existência dele), que morrera de subnutrição, parece perder qualquer fé e esperança. Simplesmente deixa-se morrer por inanição, junto aos mendigos. Sua mente ficou abalada ao ponto de não ver motivos sequer para aceitar algum pedaço de pão que os transeuntes lhe oferecem...
 
CASO 2
 
Florya,  protagonista de Vá E Veja (1985), judeu, aproximadamente 14 anos e um tanto ingênuo, vive na Bielorrússia em pleno ataque dos nazistas, e após perder toda a família e contemplar inimagináveis atos de barbárie, vai aos poucos ficando fisicamente e mentalmente deteriorado, acometido de envelhecimento precoce (um ótimo trabalho de maquiagem, aliás). Mantém-se vivo apenas pela utopia de pretender matar Hitler.
 
CASO 3
 
O garoto polonês e judeu de O Pássaro Pintado (2019), aproximadamente 10-11 anos, anônimo (a revelação do seu nome é um mistério que demorará a ser revelado), vivencia a violência e a truculência vinda de uma tripla fonte: os nazistas, os estalinistas e (principalmente!) do seu próprio meio: camponeses extremamente ignorantes e dominados pela superstição. O resultado é que, após continuadas torturas e visões de horrores banalizados, o garoto perde totalmente a capacidade de falar. Sua mudez não é sequer curada no fim da história. É algo sem solução. Isso reflete a incapacidade de expressar o tamanho do horror.
 
CASO 4
 
O libanês Zain, 12 anos, de Cafarnaum (2018), ao contrário do protagonista de Vá E Veja, tem uma inteligência e sagacidade de raciocínio fora do comum para uma criança. O que faz com que, diante daquela quadro de miséria extrema, abuso sexual infantil, tráfico de pessoas e indiferença de muitos, chegue ao final a uma conclusão de caráter filosófico: “A Vida é uma grande merda. Eu não deveria ter nascido. Pais com incapacidade de criar filhos jamais deveriam tê-los.” Assim, decide processar seu pai e sua mãe, pelo crime de o terem concebido.

O questionamento que fica é: como seria possível manter um suposto juízo racional após vários fatores externos virem a abalar consideravelmente o psicológico da pessoa? Creio que seja um enorme desafio para a Psicologia. Em qualquer caso, só a empatia deve servir como base para nossos julgamentos – se é que devamos julgar.








Nenhum comentário:

Postar um comentário