sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

“Primeiras palavras”




Espécie de peregrino que carrega dentro de si um sólido lar com gosto de uva verde e melancia redonda, trilhas sonoras antigas da Disney, visão de enciclopédias feitas de ilustrações primorosamente pintadas; espécie de espaçonave viva e senciente jornadeando por entre brilhantes edifícios-cidade em alternância com a experimentação dos pomares colonos, galpões-celeiros, os queijos caseiros e cantos de galos, a tristeza inconsolável dos porcos, angústias de todo animal confinado... Horrores de maquiagem cênica que representam aquilo que indubitavelmente existe fora de cenas; fora de cercas e muros protetivos tão pequenos debaixo do domo azul e negro e cinzento e colorido de tristeza incontornável; espécie de perene menino. Alma das manhãs. Ninguém enxerga o que ele vê. Ele, só. Involuntariamente único; não se rejubila da dádiva-maldição. Carregando sobre si toda beleza e toda feiura captadas pela singular visão de raio-X nunca solicitada aos mitos do Monte Olimpo. Sou.







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