sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

O Enigma de Outro Mundo – Uma retrospectiva




A saga de ‘O Enigma de Outro Mundo’ começou com a publicação, em 1936, do livro ‘Nas Montanhas da Loucura’ por H. P. Lovecraft. Nele, uma expedição americana na Antártida constituída por estudantes da fictícia Universidade Miskatonic (a mesma do personagem Herbert West de ‘Re-Animator’) descobre vestígios de uma civilização alienígena oculta desde os tempos pré-históricos: os ‘Elder Things’. Eles tinham algumas características em comum com plantas e humanos, e desenvolveram técnicas de criogenia, que, suspeita-se, tiveram papel no desenvolvimento das formas de vida terrestres. Entretanto, as tais técnicas criaram vida própria, escaparam do controle de seus criadores e se transformaram em terríveis seres metamórficos que acabaram por aniquilar os Elder Things e agora se tornaram uma ameaça à humanidade. Essa história é célebre, entre outras coisas, por ser pioneira da teoria dos ‘deuses astronautas’ e de ter servido de inspiração para a saga cinematográfica Alien-Prometheus, em tempos recentes.

Em 1938, John W. Campbell Jr. (também conhecido pelo pseudônimo Don A. Stuart) publicou o conto ‘Who Goes There?’ (no Brasil: ‘Quem Está Aí?’), que pega várias premissas da história de Lovecraft, que obviamente ele já havia lido, já que Campbell Jr. fora editor da própria revista na qual ‘Nas Montanhas da Loucura’ havia sido antes publicada em folhetins. Aqui, uma base de pesquisa americana na Antártida descobre, sob o gelo de milênios, um alienígena com capacidade de se metamorfosear à semelhança de qualquer criatura orgânica. Ele primeiramente tenta se fazer passar por Charnauk, o cão husky da turma, para melhor estudar os humanos às escondidas, mas é então flagrado, e a partir daí passa a se repartir em vários pedaços independentes, espalhando-se pelo ambiente e infectando cada humano que encontrar. A criatura, quando ataca, manifesta-se com ‘olhos vermelhos’ e tentáculos extensivos.

Campbell Jr. produziu ao mesmo tempo uma versão mais extensa da história, classificada como romance, sob o título ‘Frozen Hell’ (no Brasil: ‘O Enigma de Outro Mundo). Esta, porém, só seria publicada após seu falecimento. A única diferença entre as duas versões é que o conto inicia diretamente na parte em que os pesquisadores estão examinando o mostro supostamente morto, enquanto que no romance, há todo o prólogo apresentando as caraterísticas da base na Antártida e introduzindo melhor os personagens.

No cinema, a primeira produção inspirada nestas obras foi ‘The Thing From Another World’ (no Brasil: ‘O Monstro do Ártico’), de 1951, dirigido por Howard Hawks e Christian Nyby. Agora a ação é no Polo Norte, mas as características e nomes dos personagens são todos da obra de Campbell Jr. O mostro, entretanto, é uma forma de vida vegetal, atropomorfizada, o que é mais condizente com a obra de Lovecraft. E nem sequer tem capacidade de mudar de forma livremente. O interessante é que, aqui, estes aspectos de predador-presa num ambiente confinado parecem antecipar ‘Alien - O Oitavo Passageiro’.

Em 1972, foi lançado o filme ‘Horror Express’ (no Brasil: ‘Expresso do Horror’), produção espano-britânica que pega vários elementos de Lovecraft e Campbell Jr. (mas sem creditá-los) e coloca a ação na Sibéria de 1906. Um fóssil do que seria um homem-macaco pré-histórico é descoberto congelado nas montanhas da China e transportado por um antropólogo num expresso transiberiano. A criatura, contudo, revela-se um alienígena ‘disfarçado’ de ser pré-histórico, e passa a contaminar os passageiros do trem, transformando-os num exército de zumbis hipnotizados que deveriam auxiliá-lo a conquistar a Terra. Os recursos e efeitos especiais são precários, mas o clima denso e assustador é marcante.

Em 1982 John Carpenter nos trouxe a versão mais popular, ‘The Thing’ (no Brasil: ‘O Enigma de Outro Mundo’). Razoavelmente fiel ao ‘Frozen Hell’ de Campbell Jr., em termos de enredo, introduz como acréscimo a subtrama de uma base norueguesa na Antártida, paralela à base americana. O monstro, com seu design extremamente deformado, do modo mais horripilante concebível, parece mais condizente com as obras de Lovecraft, neste caso – aliás, a estética do filme é notoriamente ‘lovecraftiana’. Curiosamente, os ‘olhos vermelhos’ da criatura, algo bem presente na narrativa de Campblell Jr., ficaram totalmente de fora nesta versão. Provavelmente, para deixar de lado a impressão de que o alienígena teria uma ‘forma original’.

Em 2011, ainda produziu-se uma espécie de prólogo para o filme anterior, mas com o mesmo título original, o que facilmente confundiu-se com refilmagem. Tentou-se manter os mesmos designs e estética de John Carpenter, mas aqui houve notáveis furos de roteiro – os espertos logo notarão como se perverte o princípio mais básico da Física, o de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço...









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