Desmaiar, mil vezes desmaiar. Senhor, dê-me a bênção do desmaio. Diante deste público, desta aglomeração horrenda, destes olhares turvados que insistem em não querer saber quem sou.
Mil vezes apagar, dormir o sono
imperturbável das corujas e morcegos – inocentes. Sentir-me levado na maca como
se o fosse por um silente barqueiro cadavérico rumo a uma eterna mansão de
descanso profundo, que seja profunda.
Evaporar-me, quem dera. Ser um não ser,
mesmo que apenas experimentalmente. Sair de mim; do mundo, do meu livro, das
minhas palavras, da minha sombra e da minha luz. Pura descompressão.
Sem um corpo que pague com dores pela
ousadia da alma; sem uma alma que sofra os padecimentos do corpo e dos efeitos
da gravidade terrestre. Sem Terra, sem chão, sem raízes.
Quero, descaradamente sobrepujando a
sina de respirar, o direito a ser respirado. Quero invadir as narinas, os poros
e qualquer orifício de cada ser tão enganosamente sólido e tão verdadeiramente
poroso e penetrável.
E sair pelo outro lado.
Sair... Ó o deleite de sair! Perenemente
em meio a um universo-só-interstício!
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