Ela estudava psicologia
e eu estava em terapia.
Ela era militante de esquerda:
tive que adaptar minha guitarra
à sua fúria comedida,
sua técnica
brilhante aos meus olhos.
Sua ânsia incontida,
sua fórmula
de transformar o ouro em comida
para as almas
nunca calmas no mundo dos momentos.
Em seus céus de diamantes loucos,
em suas névoas púrpuras mergulhei
e me perdi
em corredores de bibliotecas
impossíveis,
os livros absurdos e os beijos
mudos...
Em sua sábia inquietude
me encontrei.
A mão na maçaneta
da porta da minha libertação.
A avenida luminosa
ante nossa procissão.
As lágrimas que vertemos,
os risos que explodimos,
os homens que seduzimos,
as mulheres que libertamos
em nós.
E nos desviávamos da turba,
infiltrados à direita dos passeios
públicos,
totalmente à deriva das arenas
de vitórias mesquinhas
e disputas daninhas
que faziam e fazem borbulhar o sangue
dos insetos bípedes.
Rasgaríamos da uniformidade
os uniformes
e seus patrocínios-parricídios
no secreto antro de uma madrugada
jamais suspeitada.
Ontem e amanhã
nossa ilha flutuante
faz suas margens.
Zombar da imensidão
como esporte
fez a nossa sorte.
Ontem e amanhã
nossa ilha flutuante
faz suas margens.
Zombar da imensidão
como esporte
fez a nossa sorte.
Ela estudava psicologia
e eu estava em euforia;
ela era militante de esquerda
bem no centro da grande esperança
cuja porta jamais fecha.
Para meu arco trouxe ela a flecha,
acesa a chama e a oculta fama.
E juntos queimamos o relógio
naquele dia.
Naquele dia
dançamos e pulamos ao redor do fogo
e só então entendemos
a verdade da vida
e o porquê de termos nascido
e de termos morrido tantas vezes
de mãos vazias.
Deixamos nossa marca,
o nosso antimonumento sem forma,
a nossa poesia sem palavras...
Aquele dia!
Naquele dia ela me coroou
senhor do seu anti-império,
pisando sobre as cinzas de calígulas e
tibérios
e todos os césares reduzidos a pó e
fuligem
debaixo de nossos pés,
chamuscados mas valentes,
precipitados e influentes.
Aquele dia.
Não sei por que
Não sei por que
tem sido sempre 6 da tarde desde
então...
Não sei por que
Não sei por que
Não sei por que
hoje eu curso filosofia
e ela se deita em outras camas.
e ela se deita em outras camas.
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