sábado, 10 de maio de 2014

“Eu não precisava de você”





Quando eu era criança,
eu sonhava com dinossauros,
robôs alienígenas,
espadas luminosas
e eu não precisava de você.

Mais tarde, lutando pelo meu espaço ao sol,
em salas de aula,
escritórios e fábricas,
contatos virando amizades
e os planos e as agendas sendo
surrealmente pervertidos,
eu ainda não precisava de você.

Estrelas caíam sobre mim,
bênçãos e maldições de cupidos bêbados.

E para iluminar meus caminhos escuros,
eu precisava apenas
dos meus dragões.
Meus dragões.
Meus...

Quando eu tratava os leões no zoológico,
não me precavia contra devoradores
de corações.
Eu era o dono da jogada.
Eu escolhia os jogos mais convenientes.

Os caminhos pareciam tão já vistos
e desde sempre percorridos.
A força e a ordem tão imponentes
nos músculos das estátuas.
Nós éramos os inquebrantáveis
dentre os transeuntes.

As tardes passavam despercebidas sobre as rugas,
prazeres renegados em fuga
e a fatalidade colorida acenando
nos fins dos túneis.

O sol ruma ao horizonte,
elefantes se curvam para Maomé,
peregrinos em direção à Pedra Negra
e então me apaixono
pela linda pedra em meu caminho.

Até posso voltar a ser seu,
mas apenas no dia em que eu for
completamente meu.
Minha única conquista,
minha prova de alquimista,
minha obra de artista
sem público.

Sáurios de trovão,
lagartos tiranos, reis do seu tempo,
contemplam a bola de luz
que se aproxima ao alto.
A espada luminosa desaba dos céus
sobre a serpente tortuosa dos mares.
A morte de Leviatã.
A sorte dos nefilins.

Um dia,
dia de perdida inocência,
eu não precisava de você
e o silêncio foi minha única poesia.
A promessa do amor
não precisaria ser cumprida.
Nada fui
e nada senti
além do que já estava em mim.
Você e o mundo,
pura abstração.
Rosada caricatura
de coração.

As jubartes saltavam
com total gratuidade.

Eu fui a lúdica liberdade.








Nenhum comentário:

Postar um comentário