domingo, 20 de junho de 2021

Se o ódio pudesse nos reintegrar...




...eu suportaria até o inferno que você me traria. Só para celebrar a memória de cada vício que compartilhamos, tão sem remorso; aqueles dias de inocência paradoxal... Assistiria com olhos de plateia de teatro os seus acessos de ódio. Os excessos de sódio etc. Você odiaria minhas rimas e assim jamais me esqueceria. Porque não nutro mais a esperança de ser amado. Aliás, nem sei se amo você... Isso parece irrelevante agora que a sobrevivência é a prioridade e já descobrimos (das mais dolorosas maneiras possíveis) que o amor não é fator de sobrevivência, como julgavam os velhuscos românticos já exterminados. Tocar nossos corpos (torturados) em frente exige um maior dinamismo, uma nova flexibilidade. Pragmatismo vital.

Quem dera... quem dera num amanhecer futuro, dispersas as fuligens, fumaças e terrores, possa vir a renascer o que fomos obrigados a fazer dormir. E que o renascido não herde de nós essa mágoa, essas cicatrizes abertas na alma. Um novo Sol, menos amarelo e menos óbvio. Porque o óbvio jamais poderia nos redimir; a nós e nossa memória.








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