segunda-feira, 7 de junho de 2021

Sonho 19 (os amuletos de marfim – epílogo)





Caminhando agora pela estrada de terra do que podia ser um parque ou um bosque em região montanhosa, penso na misteriosa serventia dos assim-ditos amuletos de marfim que contemplara no dia anterior. O velho oriental que me vendera o pequeno exemplar que escolhi não soube me explicar direito como usá-lo; lembro-me apenas que deveria ser “inserido” no corpo do usuário no momento oportuno. Não sei de quê jeito, e nem o tal momento...
 
Dos exemplares de amuletos – que levavam nomes como Abraham, Mohammed, Moshe, Budd
ha, Yeshua dentre outros –, fiz a escolha mais óbvia. Era fino e pontiagudo, nove centímetros, provavelmente esculpido num dente de tubarão, com uma espécie de torção espiralada bem no meio, onde ficava um furo. Difícil saber o que aquilo tinha a ver com Jesus Cristo. Será que eu o poderia saber?
 
Súbito devaneio alucinado: eis que o dente já está em mim, sabe-se lá como. Sei disso, pois, claramente, estou em instantâneo estado alterado de consciência – ou, talvez, uma real metamorfose. E era algo diretamente ligado ao bosque.
 
Reduzo-me ao tamanho de um minúsculo inseto voador, à altura de onde estiveram meus olhos. Incrível a sensação do ambiente “crescendo” ao meu redor, durante a rápida transformação: sou como que “sugado” pelo declive ao lado do caminho, mergulhando entre as árvores; elas vêm a mim numa tridimensionalidade delirante. As árvores são como torres gigantescas enquanto eu voo próximo e entre elas, me extasiando na contemplação de todos os pormenores da natureza verdejante. Cascas, ramos, folhas com todas as minúcias. No fim das contas, sou realmente um inseto agora, e isso é uma delícia nunca antes imaginada.
 
Agora não sou mais um inseto, mas um tipo de espírito; sem corpo, sem peso, sem massa. Sobrevoo uma exótica cidade que beira um mar, ensolarada. Prédios com cúpulas arredondadas; todos com duas cores: azul e branco. Mergulho na cidade; entro e saio veloz pelas janelas, atravessando os prédios. Não percebo ninguém vivendo lá... Os interiores e exteriores sempre em azul e branco, com muitas formas que simplesmente não consigo descrever. Tudo cada vez mais indescritível, até o limite do limite de uma mente incapaz de sondar o que está além da mente.







Art by: Sprzedajemy

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