sexta-feira, 18 de junho de 2021

Sonho 89 (engenharia obscura)




Numa sala ou ala que remete ao ambiente de um instituto, ou uma usina, ou qualquer instituição científico-tecnológica, me vejo caracterizado como um técnico competente e comprometido. Só não sei com o quê... Presumo que logo me voltará a compreensão.

Abro uma porta para a luminosidade exterior. E o que se abre é um cenário bem amplo, do que poderia ser a construção de uma represa, ou usina hidrelétrica; qualquer obra de engenharia de proporção considerável. Estou num terraço, e diante de mim há um vale ou escavação descomunal, da qual se sobressaem inúmeras parafernálias difíceis de descrever. Por toda parte, perambulam funcionários trajando gravatas, usando capacetes típicos de construção. Praticamente todos são orientais. Não sei identificar se falam em japonês, ou mandarim, ou coreano. Só sei que sou muito respeitado por todos; me tratam como se eu fosse um líder ou autoridade. Sou lisonjeiro às lisonjas, mesmo sem entender o que está acontecendo.

Corte. Perambulo por um cenário um tanto desértico, acompanhado pelos orientais. Eles comentam e apontam para uma enorme formação artificial, com aparência de polvo, que cobre uma montanha. O que parecem tentáculos são na verdade mangueiras / encanamentos / dutos de grossíssimo calibre, como que desabados ao longo das encostas. O que escoaria por eles?

Outro corte. Passeio de jipe pela mesma região. Vejo outros polvos cobrindo montes; aliás, muitos. Passo pelos lados de alguns dos tais dutos. Creio que tenham por volta de quinze metros de diâmetro. Eles parecem que se entrelaçam, e cobrem uma extensão tão vasta da região, que se perdem de vista. Faraônico.

Agora, fica claro que se trata de um sistema de drenagem de tamanho nunca antes sonhado pelos seres humanos de minha época. Qual a finalidade daquilo?

Num piscar de olhos, estou sozinho, levando uma carga nas costas (maior que uma mochila), em meio a um verdadeiro deserto. Não vislumbro alma viva alguma ao redor. Há o som marcante do vento e a apreensão. Ando em frente meio que cambaleante. Percebo que uso óculos especiais que me protegem da poeira. Ando mais um pouco, e noto que uso um tipo de respiradouro acoplado à boca e às narinas. E me valho de um tipo de bengala metálica muito fina, que talvez sirva como sensor sísmico ou hídrico. Curioso cajado.

Até que, finalmente, chego à borda do que pode ser, ao meu ver, um vale ou um canyon de proporções tão inconcebivelmente gigantescas que nem parece coisa deste planeta. Meus olhos não conseguem abarcar tanta vastidão. E tamanha desolação. Porque algo deveria estar ali, no lugar daquela irregular cratera, daquele rasgão de tamanho continental. Não há nada ali de natural penso com amarga certeza. Seria uma blasfêmia à própria Natureza chamar aquilo de paisagem.

Encontro-me, de repente, bem no centro do ponto mais profundo  no âmago desolado de um sonho destruído. Bem diante de meus pés, um pequeno sulco sinuoso, talvez do que outrora fora um córrego ou nascente. Mas nada nasce por ali. Sinto vontade de não pensar em nada. E assim, do nada, no nada começo a chorar. Derrubo minhas cargas e sento-me no chão. Deixo minhas lágrimas regarem o solo, como se tal atitude equivalesse a deixar um vestígio do meu mais belo sonho num mundo futuro  num solo seco do futuro.








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