segunda-feira, 7 de junho de 2021

Sonho 52 (o alce / a casa no meio do lago à noite)





Algo que só em sonhos me era comum e até rotineiro: ser parte do ambiente apresentado e familiarizado com coisas não vividas no mundo desperto. No caso, a neve e as montanhas, a súbita beleza encontrada no frio. Eu era outro eu. Tentando encontrar algum rumo para, talvez, mais algum outro eu.
 
Na noite com ares de crepuscular, eu subia uma elevação. A neve caía muito fina, quase imperceptível. Mas percebia-se que formava ocasionalmente uma espécie de véu nebuloso sobre as coisas; coisas tais como árvores, rochedos, cercas quebradas, cabanas distantes, estacas e agora um alce que mirava o vale à nossa frente. Ou ao menos poderia ser isso, caso não fosse uma rena ou algo similar, mas o focinho arredondado indicava um alce. Era uma figura bela e imponente, parte tão integrante do cenário quanto eu mesmo.
 
Pensei que, no fim das contas, o vale seria algo digno de uma exploração. Assim, para lá me direcionei. Mais lentamente do que queria, por causa do atrito das botas no solo não muito sólido.
 
Percebi então o som inconfundível de um galopar vindo atrás de mim; voltei a cabeça só para constatar o óbvio: o animal vindo em meu encalço. Tenebrosamente alterado, um bufar que mais parecia fumarolas lhe saindo das narinas.
 
Desci desabaladamente para o vale. Era natural que eu fosse; tudo parecia convergir para lá – era inevitável.
 
Dissipando-se agora qualquer véu nebuloso diante de mim, abriu-se-me à vista a paisagem de um grande lago congelado, de superfície bastante brilhante, cuja margem oposta ia dar em longínquas montanhas. Entremeado de ilhotas, a maioria rochosa. Mas o mais notório agora era o casarão que se erguia bem no meio do lago, no meio de uma ilha. As formas modernas, uma construção de semblante enganosamente frágil. Janelas todas abertas (as portas, seria possível?) e muitas luzes acesas. É vista de perfil, a entrada à esquerda. Um como que ancoradouro hospedando uma pequena embarcação. Resumindo: o calor e o conforto emanavam daquela residência-oásis.
 
Nem me preocupei mais com o que antes me perseguia: tinha total certeza de que ele estava muito longe. Não tive sequer interesse em olhar para trás.
 
Magicamente, um promontório formou-se a partir da margem à minha frente, se alongando em direção ao centro do lago. Segui por ele até o que seria um outro mundo ou um novo sonho.







Art: photo by Paul Twardock

Nenhum comentário:

Postar um comentário