Apresentador:
Comer! Comer, comer para poder crescer!
Abaixo destas costelas de magreza,
um vácuo ruge!
Ainda há forças para tanto!
A garantia do espetáculo...
Coro:
Banquete! Banquete!
Não se espera o enfeite,
o convite ou o sarau.
Extermínio das formalidades!
A pressão tamanha
sobre o tubo e o aparelho digestório
ordenará a ingestão
de cada peça e fragmento do escombro
horrendo.
Gladiador 1:
Não fui criado para interpretar.
Todo o sangue é real.
Coro:
Real! Real!
Cada fluido corporal.
Cada peça móvel do jogo fatal.
As feras mais famintas
aguardam pelo sinal.
Plateia:
Circo! Circo! Circo!
Imperador:
Ó este tédio mortal...
Ó estas nuvens que pouco saem do lugar...
As divindades que nunca se esforçam
para provar que existem.
Esta tradição herdada
de ingestão e regurgitação
é o liame entre o trágico e o cômico
e nada posso fazer
para disto me esquivar.
Ah, se soubessem
que não reino ou impero sobre coisa alguma...
Plateia:
Estraçalhem! Estraçalhem demais!
Dê-nos sangue! Dê-nos vermelha paz!
Coro:
Pressão, pressão, pressão universal
que rima, rima, rima
com máquinas celestes indiferentes,
com corridas de bigas de trapaça,
com trupes de bardos plagiadores
de narrativas atlantes fora de contexto:
vidas breves.
Gladiadores 1, 2 e 3:
Não somos pagos para cantar.
Apresentador:
As vidas, vidas se arrastam
até por pães dormidos
e hóstias de bolor
e luxo decadente
de lupanares de doença.
Chicotes, chicotes
de crenças sobre crenças.
Que venha, que venham mais motivos
para enobrecer ou justificar o choro,
pois o choro é garantido.
Imperador:
Não posso mais!...
(Após um silêncio breve de horrenda expectativa,
uma fila de elefantes incrivelmente magros
e magnanimamente tristes atravessa a arena
de ponta a ponta. Nenhuma fala ou cantoria
durante o
trajeto, da parte de ninguém.)
Cantor líder do coro (quebrando o silêncio):
Eles dançam, eles dançam,
dançam invisíveis,
os deuses que se fartam de ambrosias
inacessíveis às línguas
do Reino Inferior.
Plateia:
óinc óinc relinch relinch
au au mu mu có có
Coro:
Aventuras mil
do herói varonil
e seus clichês de dramaturgia
já natimortos...
Engrenagens de máquinas absurdas
que muito ainda percorrerão.
Leões do gládio:
Como pode uma viva alma
enxergar espetáculo
em tamanha banalidade?...
Cantor líder do coro (quebrando o silêncio):
Eles dançam, eles dançam,
dançam invisíveis,
os deuses que se fartam de ambrosias
inacessíveis às línguas
do Reino Inferior.
Plateia:
óinc óinc relinch relinch
au au mu mu có có
Coro:
Aventuras mil
do herói varonil
e seus clichês de dramaturgia
já natimortos...
Engrenagens de máquinas absurdas
que muito ainda percorrerão.
Leões do gládio:
Como pode uma viva alma
enxergar espetáculo
em tamanha banalidade?...
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