Eles desceram do céu no início da noite. O vento angustiante que assolara as pastagens durante todo o dia bem parecia uma prenúncio da desgraça. As crianças pararam de brincar, mulheres recolhiam suas roupas, cães encolhiam suas orelhas e procuravam um lugar para se esconder. Misteriosos estrondos ecoavam entre as montanhas; sobre as nuvens do entardecer tremeluziam estranhas cintilâncias; os cânticos dos pássaros, estes mais pareciam lamentações.
Todavia a noite iniciara iluminada –
irregularmente. Estranhas bolas de plasma luminoso sulcavam o firmamento,
desciam num voo rasante e mostravam suas faces aos pobres amedrontados.
Do alto do penhasco que sobressaía da
serra à qual o vilarejo agora pedia panteística proteção, os nômades
limitavam-se a olhar, não compreendendo aquele espetáculo dantesco. Quando
acordaram para a necessidade de fugir, intempestivamente correram em direção
aos bosques. Não tiveram chance alguma: eram meros mortais.
Junto à entrada da cidade, estavam
elas lá, as tropas assassinas que agora se faziam revelar. Corcéis
cibernéticos, a artificial melena fantasmagoricamente branca a contrastar com a
negra paisagem de fundo; assentados sobre estes, os impositores, a princípio
imóveis em suas armaduras, ao primeiro grito de comando saltaram sobre a
comunidade indefesa.
Ao golpe terrível das espadas
luminosas, corpos frágeis ou fortes jaziam em seu próprio sangue.
Entre a multidão de desorientados,
destacava-se uma jovem mulher, que, carregando seu pequeno filho nos braços,
agilmente esquivava-se dos relâmpagos e das explosões, tentando encontrar
abrigo entre os escombros. Vendo a inviabilidade de continuar assim procedendo,
deteve-se junto à residência ainda intacta de sua irmã. Encontrou-a na varanda,
em frenesi.
– Toma meu bebê, guarda-o contigo, é possível que eles não mais venham aqui para assolar-te.
– Não te recusarei o pedido, mas, como
podes estar certa de haver aqui segurança para teu filho?
– Ora, que interesse teriam os
impositores em demorar-se para saquear pobres camponesas? Creio que ainda esta
noite... (de súbito, uma explosão estremece a terra ao redor) Oh! Não podemos
mais continuar aqui! Preciso encontrar um lugar para meu filho!
Entre as árvores entreviam-se ágeis
centelhas: os cavaleiros e suas espadas mortíferas se aproximavam. A jovem mãe,
tomando o bebê dos braços da irmã, correu com ele rumo ao centro desolado onde
sua casa se situava. Sentia como se corresse por toda a eternidade.
Qual não foi o seu horror, quando, ao
chegar junto à entrada da praça principal, deparou-se com a figura do próprio
líder da Legião Impositora, ali postado em todo o seu esplendor mefistofélico.
De seu capacete, alongado e rubro, despontava um ornamento brilhante,
semelhante a uma formação de pequenas pedras; sua armadura reluzia como ouro.
Vendo sua nova vítima, descobriu o rosto.
Numa atitude aparentemente insensata,
a mulher correu para ele e, sem jamais largar o filho, ajoelhou-se exasperada.
– Vos suplico, em nome de vossa
grandeza, que poupeis esta criança e sua pobre mãe!...
– Admitis a superioridade da Doutrina
Intervencionista e a origem divina da Lei Pentagonal?
– Admito, creio, professo o que
quiserdes, mas poupai-nos!
Num só golpe de espada, a mulher cai.
Abaixo dela, a terra escurece.
– Fraca de espírito!
Desce do cavalo e ergue a criança.
Levando-a consigo, monta. Um esgar se desenha em seu rosto de pedra.
– Não chores, pequenino – a voz cavernosa mesmeriza a criatura, que se cala –, não chores. Ainda tens muito a aprender...
– Não chores, pequenino – a voz cavernosa mesmeriza a criatura, que se cala –, não chores. Ainda tens muito a aprender...
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