(Continuação)
Estariam nossas aspirações vocacionais e talentos criativos inatos se desenvolvendo, aflorando, se expressando satisfatoriamente neste mundo que se diz amplificador de potencialidades através da técnica e da tecnologia, mas que, ao invés disso, usa estes mesmos recursos justamente para o melhor condicionamento de suas ferramentas animadas? O que será essa “agilidade mental” que as crianças adquirem no contato com as modernas tecnologias da informação? Que critérios separam o fator QUALITATIVO e potencializador de realização pessoal destes elementos (agilidade e informação) dos fatores desumanizantes, despersonalizantes, escravizadores?
Estariam nossas aspirações vocacionais e talentos criativos inatos se desenvolvendo, aflorando, se expressando satisfatoriamente neste mundo que se diz amplificador de potencialidades através da técnica e da tecnologia, mas que, ao invés disso, usa estes mesmos recursos justamente para o melhor condicionamento de suas ferramentas animadas? O que será essa “agilidade mental” que as crianças adquirem no contato com as modernas tecnologias da informação? Que critérios separam o fator QUALITATIVO e potencializador de realização pessoal destes elementos (agilidade e informação) dos fatores desumanizantes, despersonalizantes, escravizadores?
O quadro amplo com que nos deparamos é estarrecedor:
multidões tangidas ao domínio mediante atraentes mecanismos potencializadores
da ferramentação humana – o que não
pode ser confundido com capacitação pura e simples, nem com agilidade mental e
física em si mesmas. Amplo porque engloba praticamente todas as classes e
grupos sociais, incluindo mas não se restringindo ao setor do operariado em
sentido industrial. E sustentado por uma pedagogia superficial e tendenciosa,
que não investe devidamente na VOCAÇÃO do indivíduo – que é algo a ser
descoberto, antes de incrementado –, mas já parte de seleção e competição como ideias
basilares, antes mesmo da educação em si. Cruel ponto de partida! Do abismo para o
abismo...
Quem pode escapar deste controle abissal, desta
desumanização técnica em massa?
Então constato, melancólica e corajosamente: sou um
escravo. Eu, somado à maior parte dos terráqueos. Preciso ter a humildade de
admitir isso; do contrário, enganaria a mim mesmo. Mas, que tipo de escravo
sou? Ora, um escravo filósofo. E como isso é possível? Entendendo que a Filosofia busca sua autoaniquilação
através de sua plena realização: uma vez plenamente concretizadas nossas
aspirações libertárias, nada mais teríamos a reivindicar e, logo, não
precisaríamos mais de Filosofia, já que esta serve apenas para a melhora de
nosso estado de vida. Se bem que os espertos sabem que crer que este quadro
seja alcançável é uma ilusão, pois sempre teremos algo a melhorar na vida e no
mundo, eternamente, ao que tudo indica. (O próprio “Paraíso Ideal” é
eternamente reconstruído – e assim deve ser.)
Nesse contexto, eu posso muito bem considerar-me
filósofo: sempre emergindo da escravidão, sempre sem presunção de ter atingido
um “ápice” filosófico que nunca chegaria, de qualquer forma, mesmo que eu
esteja agora tolhido pelas amarras e correntes do trabalho alienante.
Contudo, neste meu longo emergir, tenho em mente que o
foco visado do Ideal almejável deve me conduzir, pois a libertação filosófica,
enquanto permanecer somente virtualizada, embrionária ou simplesmente esboçada,
mesmo com toda a intenção, heroísmo ou até martírio idealístico, restará sempre
como uma luminosa esperança, mas nunca como realização. E há, sim, uma forma de
realização presente e viável: um CAMINHO perfeito em si mesmo, um Ideal de caminho, como meta fluída. Sem um término no tempo,
mas já ganha na atitude.
A Filosofia até pode ser, ela mesma, apenas uma eterna
esperança, um vir-a-ser, um caminho infindável de aventuras... Sem finalização,
mas tendo somente um sentido, uma direção. E o que nos caberá, então, será
aperfeiçoarmos o nosso senso de direção.
Para onde
estamos indo, afinal? E como estamos
indo? As respostas ou tentativas de respostas a essas duas perguntas
consistirão toda a parte efetiva da nossa Filosofia.
Na dúvida, a escolha: ou guiamos a nós mesmos no caminho,
por mais insondável que ele nos pareça, ou então nos deixamos conduzir. Se
optarmos por sermos “passageiros” ao invés de “tripulação”, teremos ao menos
que escolher muito bem nossos tripulantes e comandantes (e que Deus abençoe
nossas escolhas...).
A resposta à pergunta inicial é, pois: SIM, É POSSÍVEL um
escravo filosofar, mas a natureza deste filosofar se definirá numa escalada da subjetividade à
objetividade: do ato do pensar ao do realizar. A Filosofia, como pensamento, é possível em se estando
submetido ao estado de extrema restrição. Mas não no contexto da ação filosófica. Esta pode até ter
início no estado de escravo, mas será consolidada somente em forma de ação livre.
Vemos, assim, que há 2 FILOSOFIAS: uma teórica, outra
prática. É preciso, porém, liberdade de ação para tornar FATO o pensado.
Seja como for, o 1º PASSO já pode ser dado: a libertação do pensamento – caso esta
seja, primeiramente, ansiada. A ação mal
pensada, por sua vez, nada mais é que uma má
revolução.
E de más revoluções já estamos fartos.
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