terça-feira, 3 de abril de 2018

“Ich soy Braziliano” (1-3)






I

Ich soy Braziliano, man,
fluído e maleável nos interstícios úmidos das selvas,
escalador de dunas e abridor de mares,
às vezes me afogando de mim mesmo ridiculamente
até enjoar, mas ok...
Porque tenho sempre um jeito de me safar
das encrencas que eu mesmo produzo.
Domino este engenho que herdei,
da casa onde me criei – esta síntese
de todas as maiores contradições conflitantes
que se apaziguam em cima de uma cama.
Sei fazer amor do modo mais caliente
que o sexo dos deuses jamais me ensinou
(posso ensinar a quem se submeter
ao método pragmático...),
e nunca me arrependendo
antes de poder rir do passado.
(Ignorado.)

Segurem minha mão, crianças!
Vamos voar...
Despencar...

Terra incógnita.
“Além-mar.”

É daqui que eu vim, emergindo,
me definindo e redefinindo
ao sabor das mutações do espaço.
Espantoso, exótico
eu vim!

Venho e volto,
e você junto.

Do último lugar onde você esperaria encontrar
a primeira das suas múltiplas realidades ocultas.
A origem primária de todos os seus sonhos e pesadelos
não baseados na vida presente.

Lugar,
aquele poema,
este quase selvagem celestialmente murmurado
pela minha favorita ótica estrangeira
através do nicho luminoso em seu cubículo
de desesperanças formais.

A excitante armadilha de turistas
que certamente compensa a empreitada!
A recompensa? – produza-a.
Muitos já tentaram, mas em vão...
Dou-lhe, doravante, a CHAVE!

Ordem, Progresso e Bunda.

Sim, sei muito bem o que move seus ímpetos revolucionários,
mesmo que você mesmo não saiba.
É o mesmo que também poderia levá-lo
a ignorar ou combater toda e qualquer revolução.
Pertencemos à mesma raça – ninguém poderá negar.
Eu apenas me diferencio pela sincera determinação
do sorriso, oculto por trás
do choro inexplicável.

Ah, você achava que era só “festa”, né?

II

Simplesmente sofro e queimo porque sei demais!
Não desfruto o sabor das frutas tropicais
cuja razão se ser é tão somente
o apaziguar das angústias semanais
daqueles que não se ocupam de preocupar-se
frutificantemente.

Apenas sofro e padeço do peso
da América,
Américas, Europas,
Calixtos e Ganimedes.
O que quer que me orbite,
exerce sobre mim
alguma ambígua influência;
algo que escapa de meu controle.

Há muitas paranoias coloridas
rondando meu acampamento nômade (roto).
Furtiva intenção das gargantas sedentas
para sentir por osmose
o que só eu sou capaz de sentir.

Desde que me ensinaram
que saber e poder coincidem,
estive mergulhando em vórtices de diluição
de mitos musicados,
saltando de negação em negação,
mantido em vida apenas somente pelo fio
da esperança que se me fez caminho.

Caminhantes do mundo,
instituamos novas e fluídas estradas!
Vocês são do meu sangue, sim!
Vocês, que bem sabem que contestação
rima com fruição, e assim respiram.

Não, não respiram.
Novamente falando com fantasmas...
Ainda pensando em “compensação”...
Mas ainda sei quem sou.

III

Brazileño, Capisce?
Corredor de riscos por definição.
Heroico! – com pequenas e esparsas
covardias hilárias.

Je suis... um eterno estrangeiro
na terra de ninguém e de todos.
Mas aqui TODOS são estrangeiros,
embora nunca estranhos.
(Nenhum sangue puramente nativo
sobreviveu a esta lenda criada ontem.)

¿Did you understand?

Mim ser... Apache,
Yanomami, Quíchua,
vocalista de banda de rock de estilo mutável.
Nunca sei em que trilhas
se intrometerão meus trilhos.
Só sigo o rastro do perfume
que aquele sedutor saci
deixou pelos arbustos da minha vida.

Ferida – mas sempre sei rir!
É como escrever poesia,
como voar em melodias:
é sempre um novo amanhecer
depois da melancolia.
(Rimou de novo.)

Seguir em frente
quando nem caminhos à vista houver:
a arte que os Orixás
nos forçaram a aprender,
desde os tempos imemoriais
que obviamente nunca fazemos questão de lembrar.



(Continua)








Art by Ilse Hviid

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