Lili tem um gatinho,
uma bolinha de pelos ronronante
que se destaca brancamente
nos quartos apenumbrados
onde ambos são compulsoriamente
trancafiados.
Mintzi tem uma dona
redondinha, gorduchinha de tantos
milkshakes
e domingos redentores
de semanas longas de prantos
trancafiadores
jamais ouvidos pelos ouvidos
abusadores.
Ninguém jamais explica
como crescem assim as bolinhas,
o que as impele a tamanha avidez gastronômica,
se não fossem os astrólogos
e suas fofas previsões de almanaque,
para em meio à troça do Absoluto
Racional
pontuarem de constelações
nossas jovens vidas.
A criança observava a trajetória do
cometa...
mal sabendo que ele em si não seria
jamais visto.
A olho nu pouco nos resta, a bem da
verdade
(já sabemos da lição primeira da
desilusão)
a menos que o ritual amplificador
um dia desista de nos pregar
mais peças.
Mas, chega de voos da imaginação.
Não foi uma vã imaginação que lhe
trouxe aqui,
quentinho e mimoso em minha cama,
carinhoso para suprir a Infinita
Carência.
Para que eu supra as suas simplórias exigências,
tão simples de atender, gratuitas...
Lili trazendo atrativos mentais
saborosos
mas pouco sustentadoras
ao seu langoroso mascote-amante.
A união que jamais se sustentará,
em qualquer lugar do universo.
Jamais se consolidará
em meio às montanhas de travesseiros e
almofadas
de fácil suprimento-retorno.
É por isso que foi engraçado de ver
(de dentro para fora, inclusive)
sua (minha) cabeça explodindo
após aquele silvo tétrico e excitante.
Os pelos e a gordura entretecidos
e as bolhas vermelhas colorindo
o vidro interno.
Mamãe terá alguma dificuldade
para limpar o micro-ondas...
Mas foi necessário.
Por nós dois – você entenderá um dia.
Onde quer que você esteja,
com sua pequena alma roliça
que não poderia sozinha me nutrir.
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