Rasgue esta página.
Não me obrigue a repetir.
O seu remorso contribuirá
para aumentar o valor-de-uso deste
artefato
em sua versão ideal ou idealista,
pela possibilidade de ter o novo avatar desta
ao menos a metade de seu valor final
(numa livraria bem intencionada, suponhamos)
devidamente provido pela troca
do velho avatar rasgado.
Não entendeu? Posso repetir.
Mas não vou.
Se a digestão é ligeira,
é porque o paladar antes dedicou-se
laboriosamente
na extração do Prazer pragmático.
(E isso faz parte também
do GRANDE VALOR.)
Juro que vale a pena.
Mas sei que você desdenha juras
(juros?);
então às vezes me vejo obrigado a mandar:
recorte na linha pontilhada
(Desenhe-a, ora! Facilite um pouco
para mim...)
e suspeite eternamente
que o trajeto da linha era o mais
inconveniente possível.
Daí então (como opção,
pra depois não me chamar de mercenário),
conserve o exemplar toscamente
modificado
na estante, no baú ou na cabeceira,
valorizando, assim, e para sempre,
o Ideal Intacto
não materializado.
(No caso de não querer comprar o atual
perfeito.)
O GRANDE VALOR
não lhe fugirá, isso eu garanto.
OU não – não rasgue nada;
bote fogo.
No fogo, tanto faz; destrua tudo
que houver de tangível
e “impresso”.
Yeah,
how cool...
OR
not! – forget everything eu falei
até aqui. O que importa
são os fins, os Valores Superadores.
Apenas garanta a expressão destes
no interior do seu espírito,
cada dia e noite,
cada vigília e sono,
no passado, no presente e nos futuros
possíveis.
Só não perca nunca de vista
o que o SEU Amor projetou sobre esta
obra;
o labor de sua complacência
contemplativa
e interativa
que ilumina este livro de Sentido...
Esqueça-me,
rasgue-me...
Todo autor humano é uma farsa
que ainda não se autodescobriu,
enquanto não tiver descoberto a face
das inúmeras entidades
más ou boas, deste ou de outros
mundos,
externas ou internas
que entram na constituição
deste gigante denominado
Desconhecido.
Descoberto também
sua própria face
Ideal e Intacta.
Art by Guy Laramée
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