Eles estão chegando.
Eles estão se arrastando sem maiores
cerimônias.
Farejando obstinadamente
o rastro do aroma substancioso
e seguindo o instinto devorador,
acumulado
desde as origens pactuais
do Estado Civil e Eclesiástico
dos pães ázimos e dos circos
incendiados.
Minha lira genocida.
Meu passado assado em estacas.
Meu lamento esfaimado
pelo verbo desperdiçado.
Nós viemos pela apresentação,
representando a antiga farsa ou auto
dos que vêm dos Céus
em busca do toque e do reconhecimento
por parte das filhas da Terra,
autoprometidamente pródiga, submissa e
produtiva.
“Oh! Que sedutora filosofia
nos escapa pelas negras chaminés...”
Minha lira genocida.
Tua sádica manhã de chuva.
E os versos autotróficos
exalados pelo teu ventre relicário.
Ário. Ecoas rítmico,
desenhado na textura da lembrança.
Caindo em meu sono
como um sopro fantasmal revigorante.
Mas não retenho-te o bastante:
as hordas que lá fora esbravejam
rompem-interrompem
nosso intimismo-misticismo infamante.
Rompedora, rompida lira
dos tempos de dor.
Não coloques em minhas mãos teu
instrumento.
Quando incendiávamos mesquitas
e afogávamos semitas,
teu delicado falsete
pairava muito e muito acima de todos
os esbravejamentos
cadenciados...
E ei-los no banquete, enfim:
tangidos pelo restolho instintivo,
(margeando o caolho lirismo),
repartindo (não sem desentendimento)
os despojos
das vítimas óbvias.
Santos e inocentes demônios
que bebem e se intoxicam
com o rubro de todas as nossas
maldades...
Estivemos sempre “chegando”
– lê-se nas legendas.
Sempre e para sempre nos esgueirando
para fora dos covis
da Cristandade Técnica.
Eternos famintos
de novas e velhas fomes.
Propulsionando as engrenagens e as
molas
da Indústria Imperial da Comida Rápida
filosoficamente justificada.
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