quarta-feira, 30 de agosto de 2017

As vítimas





A natureza prega peças
e caímos.
A natureza prega peças
e caímos.

Cenários urbanos e rurais,
paisagens serranas e litorâneas
não encobrem a paixão
e caímos.
Vícios criativos, fugas
sem vestígios, novos apelidos
não desfazem a ligação
e caímos
num redemoinho
de controles-remoto e telefones celulares
para evitar que nos olhemos nos olhos
depois da derrota
de nossa frota inexperiente
em matéria de paz.

Qual a trilha para o filme
de nossas vidas?
Qual a cena que não gostaríamos
de lembrar?
Os fantasmas da paixão
nos sufocam
com suas túnicas góticas
e gememos,
espremidos no tubo de ensaio
de um cientista insano.
Somos parte de um projeto macabro:
acabou-se a era dos super-heróis,
não temos guarda-costas
nem dublês
para as cenas de nudez.
Quem poderá administrar,
governar o mundo do sentimento?
(Políticos pioram a coisas,
com sua típica fantasia de controle.)

Ninguém detém a teoria
desta base volúvel da existência.
Apenas sentimos.

Não posso deixar de sentir
e as lágrimas me ofuscam
a visão.
A visão do paraíso numa canção
acalenta
as vítimas da paixão.

A visão de um paraíso numa canção
alimenta
as vítimas da paixão.



(Apêndice:)

Novos termos clínicos
para o velho e conhecido
desespero,
novos símbolos de poder
e subjugação sexual
não nos conduzem um ao outro
quando a solidão e o desejo
fazem-nos subir pelas paredes
e implorar por um elixir
que nos faça suportar
a dura lógica.








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