quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Relato íntimo do eternamente longínquo





Nossas tardes já prenunciadas pelas manhãs,
nosso belo encontro-esbarrão
como antípoda-liame da despedida.
Nossa-tua-minha exploração delícia-tensão.

No recinto encontrado,
explorava os mistérios do teu corpo e meditava;
não! mediava o amanhecer centrífugo
e nosso anoitecer girândola-implosiva
ligando inícios a fins.

Meu eu, ali, distante demais de ser teu
e a inocência cínica do teu prazer convulso.
Negaste-me o privilégio da conexão não solicitada,
como se alguma diferença isso fizesse.

Desculpas pueris que chovo sobre ti.
Desculpas que chovo sobre teu meu.

Meu profundo eu assombrado
pela própria ousadia,
mesmo sendo esta distante demais
e demais da permanência-eterno-hoje.
Agora é um ontem,
ontens gravados pelos dentes
que me acariciavam meus amanhãs.

A fome com que também me examinavas
as palavras e as tolices
que minha sábia infância jamais se atrevera
a pronunciar...

E agora tarde e tarde da manhã
fugimos para a vacuidade dèja-vu destas ruas
que também foge hoje e sempre
da sábia decepção enjaulada.
Nossas infâncias enclausuradas...

Sim, e depois de tudo,
depois da pequena aventura memorável
e depois de finalmente nos perdemos de vista,
como já previsto,
este sol entre os edifícios
vem me encarar, soberano,
lavando todas as ideias e identidades volúveis,
mas cridas insolúveis
porque assim as havíamos desenhado
em nossos sonhos induzidos,
nada nossos, nada minha-nossa-tua
obra magna de ilusão.

Além dos horizontes os ecos da canção
do meu velho-novo eu,
personalidade incógnita de almejável perfeição,
saudosa e perene sempre distante
de nossas mútuas investidas sensoriais...

Imensa, imensamente distante
de paredes e telhados
condescendentes, coniventes
com nossas pálpebras ébrias...

E o cheiro do teu não tu
ainda em meus dedos.



(12/11/06)









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