quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O pequeno George





Inicia sibilino
Bem e mal esperados
Amados e odiados
Previsível até a exaustão
Desligo a invasão
Respiro a tensão
E desabrocha a flor ignorada
Esperança nunca regada
Esvaem-se as nuvens pesadas
Cambaleante, desce as escadas
E grita sua fúria infantil para ninguém
Um arpão lançado no vazio
Um rubro jorro imaginário
Devaneio incendiário
E as visões entrecortadas pelas janelas
Um balé de estranhos seres ao redor da casa
Desperta os sobrepostos
De suas incríveis posições
Os livros voam da estante
O volume dourado pousando aos pés
Do pequenino, nunca ouvido
As páginas vazias enchendo-se de sonhos
Sólidos, líquidos, gasosos e cremosos
Ectoplasmas indefinidos cantarolam
Pelas paredes e lustres
Imaginários como tudo que julgamos real
A grande boca da noite
Engole e regurgita
O fugitivo do mundo vigilante
Eterno viajante sem pausa para amar
O seu amor acrílico de sitcom decadente
Um enredo absurdo
De tão verossímil
E agora restam apenas fagulhas e fumaça
A chuva fina, indiferente sobre os estilhaços
O pesadelo revelado
Pelo sonho negado proporcionado
A interrogação bailarina
Unindo o casal atormentado
Sob os holofotes abraçado
As sirenes e o seu recado
Despertando os sonhadores da vigília
Opressiva certeza
Lácteo atentado de doméstica violência
Matinalmente contida
E explosiva, detonando
Pelos ares os planos
Os anos, os enganos
Em quartos apenumbrados sussurrados
E berrados em telas e páginas
Sangrados de bocas recortadas
Sangrados sobre brinquedos e cadernos
Cenários de medo urbano
Gigantismo microbiano
A devorar pontes e prédios suntuosos
A desabar rostos pálidos
Sobre mesas aconchegantes de silêncio
O silêncio que jamais condena
O silêncio que jamais critica
O súbito baque da idéia que rasga e estira
A mais racional das teorias
Para sustentar uma nova conquista
Imperialista








Nenhum comentário:

Postar um comentário