terça-feira, 22 de agosto de 2017

Cascalho(s)





Pegadas úmidas na areia lisa
não têm vida, ainda assim morem;
conchas tímidas me escapam por entre os dedos dos pés,
um pensamento escapa pela boca e voa.

Um avião não bate as asas,
mas logo desaparece acima do horizonte.
Num pé-de-vento estrangeiro,
pétalas de dente-de-leão se deixam levar.

Assim deixo-me fluir.

Nada explica
o que germina na inconsciência,
o que está em mim
sem ter sido ali por mim colocado,
o que me observa
onde quer que eu olhe.

Pare de me olhar!
Por acaso tem você domínio sobre o desconhecido?
Por acaso pode você juntar
o todo que se fragmentou?

São fragmentos de rocha
que rolam indiferentes,
deslizando sob os pés da Musa
em seu penhasco à beira-mar.
Um segundo, um soluço trancado
e jaz entre a espuma
um receptáculo de dor e prazer.
Justamente quan

Era uma vez um pai.
Era uma vez uma mãe.
Duas irmãs dormindo e sonhando...
Cascatas de ouro e outras imagens familiares
de sua intimidade adormecida,
sucessivas no cinema da transcendentalidade.

Tijolos tão firmes, vermelhos, precisos,
agora desabam num país vizinho.

É palpável, rigorosa a associação,
mesmo na difusa visibilidade
das superfícies.

Em algum lugar eu durmo.
E a esperança não pensa,
não sonha,
não crê.
Ela é apenas: pura concretização.
Nuvens de quilômetros de extensão
não pairam mais altas
que sua linda inocência caricata.
Mas não há caricatura,
não há poesia,
não há livro,
não há leitor
e nada a ser apreciado,
além destas vislumbradas possibilidades.
(Aliás, todas.)

Voa com a tarde a sensação de movimento.
Um jovem pescador sentado nas pedras do cais.
Seu braço musculoso e úmido
é real como seu sorriso.
Real é um corpo que anda,
real é um corpo que nada,
real é um corpo que sente,
real como tudo que amo.

Conforto indizível, fluir azul-corante.
Suavidade plástica ondulante.
Crianças brincam dentro da piscina.
Um asteroide se divide em três partes.
Em algum lugar eu choro.








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