sábado, 19 de agosto de 2017

Utopia de reconstrução





Some do mapa agora.
Não viste, porventura, o aviso?
Não previste a avalanche?
O arrasamento moral
a tudo engole
e arrasta consigo os perdidos.

Nossos lares estão queimados;
talvez tenha sobrado algo de nossas almas.
Os abutres já pousam em nossos ombros
– alimenta-os como às mimosas pombinhas das praças.

Um dia teus louros cachos
jazerão em meu álbum de fetiches bisonhos.
Guardarei tuas cinzas para a hora do pranto
e ninguém mais duvidará
de que já exististes e respirastes
– aspirastes?

O amor é a neve fina
que acaricia tua touca estilo Ivanhoé.
O paz é o verso livre que perfuma
e desvira do avesso tuas roupas íntimas.
Clara visão, lúcida ordenação.
Mas quem somos quando fechamos os olhos?
Por que nos deliciamos com o velho espetáculo
da corrupção?

A tragédia urbana já nos marcou
com sua língua de fogo,
mas ainda podemos subir ao ponto mais alto
das construções interrompidas
para louvar o arco-íris
e interceder pelo destino post-mortem
das obras ruídas, as tombadas
e assinaladas com o tombo desde a concepção.
Não serão estas, justamente,
as que fornecerão a resposta
às nossas dúvidas corrosivas?

Sumo do mapa.
Os cânticos e as fragrâncias
ainda vivem sob a cúpula da esperança.
Vamos regar a mansa via,
vamos preservar para a posteridade
o hábito salutar da dança!








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